Estamos na segunda década do século XXI e, longe de ser considerada obsoleta, a Doutrina Integralista, anunciada em 7 de outubro de 1932, emerge com vigor revitalizante e como remédio eficaz para os dramas da hora presente.

A obra Reconstrução do Homem, que temos aqui o prazer de disponibilizar aos amantes da verdade, foi escrita em 1957 pelo Chefe Perpétuo, Plínio Salgado, mas ganha especial relevo no cenário atual. É porque o homem brasileiro — incomodado com a inércia do coma induzido — começou a mover-se, inquieto, como revelam os anseios despertos desde 2010 na luta contra a legalização do aborto, que tiveram seu apogeu em 2013, nas grandes manifestações, e culminaram na derrocada do PT graças à Operação Lava-Jato, findando o que parece ser a primeira etapa de um período revolucionário — que não se encerrou em 2018.

O fenômeno se explica pelo advento da internet, que possibilitou o acesso a todo um horizonte de possibilidades político-sociais. Entre elas, o Integralismo: uma filosofia política genuinamente cristã e brasileira, até então mantida fora do alcance do nosso povo pelos meios de comunicação convencionais, tão atrelados às paixões dicotômicas do liberalismo e do comunismo, apegados covardemente às calúnias criadas pelo Comintern, da extinta União Soviética, e disseminadas convenientemente pelo poder do Departamento Imprensa e Propaganda a serviço do tirano Getúlio Vargas.

Se queremos levar para mais adiante as conquistas até aqui obtidas, e ao menos acrescentar algo de valor nesse processo revolucionário, devemos começar por chamar os inquietos para uma Revolução mais imediata, profunda e necessária: a Revolução Interior.

O conceito de Revolução Interior, apresentado pelo integralismo como elemento fundamental para a Revolução Objetiva e Subjetiva de que o Brasil necessita, é, em linhas gerais, a busca das virtudes e o abandono dos vícios. É impor uma luta feroz dentro de si mesmo, para arrancar as teias e trevas com que a pós-modernidade enlameia a consciência do homem, subjugando sua personalidade e reduzindo-o a uma coisa em vez de reconhecê-lo como um alguém.

Se ensinamos que a sociedade deve ser edificada por pessoas e para pessoas, precisamos “redescobrir” o Homem (com “H” maiúsculo) que reside no interior do homem (com “h” minúsculo), este que vulgariza o empreendimento social, político, econômico e cultural por ter perdido a força motora das resistências morais. De nada adiantam reformas, mudanças de governo, fundação de novos partidos ou slogans patrióticos, se não reconstruirmos os homens.

Falamos de um processo de Reconstrução porque reconstruir implica voltar ao que era. Não começar do zero, como se pudéssemos “criar um novo homem”. Precisamos voltar à postura do novo homem que por Cristo foi dignificado pela Boa Nova do Evangelho e pela Salvação da Cruz.

É de modo magistral que Plínio Salgado apresenta sua obra Reconstrução do Homem, não como uma obra religiosa, mas como uma obra de filosofia educacional, capaz de chegar, todo aquele que está angustiado e à procura dos seus caminhos mentais, às reflexões assertivas com que consiga descobrir, em si mesmo, as forças de restauração da personalidade — muitas vezes já bastante desfigurada, devido à violência de tantos ataques sorrateiros, desferidos contra nós desde a mais tenra infância e que resultam no embotamento do ânimo, na depressão, na flacidez moral, na confusão mental mais baixa e autodestrutiva.

Quem poderia negar em sã consciência que a biografia de santos como Padre Pio de Pietrelcina, São Francisco, Santo Inácio de Loyola, São José de Anchieta e todos os outros, ou obras como A noite escura da Alma, de São João da Cruz, Imitação de Cristo, de Tomás de Kempis (que o próprio Plínio Salgado traduziu e prefaciou), O itinerário da mente para Deus, de São Boaventura, As moradas do Castelo Interior, de Santa Teresa de Ávila, Confissões, de Santo Agostinho, e tantas outras esplendorosas obras espirituais e filosóficas, que poderíamos mencionar a perder de vista — quem poderia negar-lhes o proeminente papel de instrumento, quando o assunto é fazer-nos capazes de reconstruir a personalidade? Capazes de um redescobrir a nós mesmos da forma melhor que podemos ser, isto é, nos ajudando a redescobrirmo-nos em Cristo Jesus e Senhor Nosso?…

E é também de Plínio Salgado o belíssimo e inesquecível Vida de Jesus, que comove seus leitores tão profundamente que, por diversas vezes — eu mesmo pude acompanhar —, desperta nossa consciência para o caminho de regresso à segurança da Fé. Entretanto, tal a miséria do homem contemporâneo que, muitas vezes, mesmo no desespero, já nem mesmo cogita da oração ou da misericórdia de Deus. Ele se tornou tão duro de coração para o que vem do espírito, já é tão materialista, que, na sua confusão, já não entende, nem consegue encontrar o caminho para ver, com os olhos da Alma, aquilo que só a Fé pode mostrar.

Nos dias de hoje, a todos nós, camisas-verdes, vocacionados que somos para a vida social e política, não deixa de ser ponto pacifico que a nossa dificuldade em explicar as razões pelas quais nosso programa é contrário, por exemplo, ao aborto, à eutanásia, a distorções do conceito de família, como também, no plano da economia, à ideologia do indivíduo e do mercado autorregulador, tanto quanto somos contrários àqueles que querem estandardizar a sociedade ou suprimir o direito de propriedade, enfim, deve-se, principalmente, à atrofia do senso das finalidades humanas em Deus, nosso início e nosso fim enquanto Pessoas Humanas. Desse modo, quase sempre, nas discussões sobre pontos programáticos da vida política e econômica, nos vemos forçados a passar das considerações decorrentes às considerações primeiras da cosmologia cristã.

Há um ranço contra a Cristandade e seus frutos na História e na Cultura. É um ranço proposital, motivado para conduzir o homem ao desdém pelo próprio Cristianismo. Há uma aversão contra uma “Igreja Católica” que só existe nos devaneios naturalistas. E, com prejuízo à Civilização Ocidental, há um homem incapaz de promover uma sociedade plenamente humana, porque se nega até mesmo a considerar o fundamento do seu ser em Deus.

De que forma podemos levar o homem a encontrar caminhos reflexivos, capazes de desencadear nele mesmo os gatilhos para reencontrar o caminho da verdade, enveredando-o para a Revolução Integral? Como apresentar, para o homem mutilado, parcial e materialista, o Homem Integral? Não há caminho fácil. Só o Homem Integral poderá construir o Estado Integral — só o Homem Integral poderá construir uma sociedade saudável, harmônica, solidária, personalista, municipalista, democrática (orgânica) e teocêntrica (não teocrática).

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Plínio Salgado teve a genialidade de agir diante da percepção de que o materialismo retira do homem a capacidade de ver Deus no seu lugar de direito, levando-o, em consequência, a uma idolatria da vida política. Porquanto esra passa a se apresentar como o que há de mais perfeito (no sentido de completo), quando a Perfeição em Si — Deus — é retirada do seu lugar de Fim Último da Pessoa, empurrada para a angustiosa noção de que somos nós, frágeis e débeis homens, a razão suprema. Disso decorre que se conceba nossa realização suprema e mais nobre nesta vida mortal à atividade social e política.

Munido dessa percepção, ciente de que em todos os lugares há vias para encontrar Deus, Plínio Salgado agiu. Escreveu Reconstrução do Homem usando-se da filosofia educacional de um modo brilhante: expõe as questões correntes da vida social e política, atrai facilmente a atenção dos olhos desabituados a ver além da aparência das coisas, e, através dessa aparência, nos conduz a reflexões poderosas, que cavam como uma britadeira na rocha do materialismo, indo até o limiar em que a razão reflexa resvala docemente para cair num só mergulho nas águas correntes da Fé. Entretanto, não iludia-se Plínio Salgado — o sopro que finalmente leva o homem a cair no mergulho da Fé é dado por Deus.

O presente livro é uma obra admirável. Parece direcionar-se apenas à discussão de questões humanas — o que já faz magistralmente —, mas só o leitor que não conhece a obra apostolar de Plínio Salgado deixará de perceber o potencial nela contido. E é justamente nesse “não perceber” que reside outro de seus méritos, talvez um dos mais geniais: se Reconstrução do Homem for dada à leitura de qualquer homem enrijecido pelo materialismo, ao final, terá o leitor acendido dentro de si uma centelha incômoda, que permanece ressoando no interior da consciência; diante de tudo o que ver, que discutir, que ouvir falar, sentirá uma voz emergir das profundezas de sua razão de homem, que o admoestará incessantemente: homem louco, volta-se para Deus!

Conversando sobre Reconstrução do Homem com um companheiro de batalha, disse-me ele que — guardadas as devidas proporções, de modo análogo, e apenas como um exemplo —, a centelha que Reconstrução do Homem abrasa dentro do leitor, embora ainda apenas fruto de uma reflexão da razão, é comparável a João Batista no Jordão, bradando pela conversão dos homens. Essa “centelha” não é totalmente do Espírito: é, como o Batista, pessoa humana e não divina. Mas, assim como João, é importante anunciador: a inquietação que Reconstrução do Homem desperta também anuncia o Cristo.

Reconstrução do Homem é um caminho entre muitos, mas foi, para diversas pessoas que conheci, o que serviu para o grande regresso do filho pródigo. De todos os caminhos disponíveis, foi também o que mais pude ver conquistar os homens de ação política materialista.

Plínio Salgado dá-nos aquilo que, do mundo e suas agitações, desperta a sensibilidade de refletir do homem dedicado a vida sociopolítica. Os olhos apenas a princípio estão voltados para o mundo e suas questões sensíveis, mas, pouco a pouco, retornam para o interior, e aqui, com o auxílio da Graça, o homem redescobre a Fé e começa a se reinserir convicto na vida sacramental da Igreja; e, quando já está maduro, e já aprecia e se deleita com as grandes obras espirituais, este pequeno livro tende a ficar ali, amassado em um canto qualquer, muitas vezes sem que o leitor tenha se dado conta de que foi precisamente por sua leitura que sua percepção furou a carapaça materialista, depois do que a Luz pôde entrar e dissipar as trevas. Reconstrução do Homem é um livro em si mesmo cheio de dever cristão — faz sua parte e vai diminuindo e diminuindo até sair de cena para que Cristo apareça.

Assim, pelo caminho em que julgaram poder retirar Deus dos homens, ou seja, pela via da política social, os materialistas descobrem que, embora possam construir uma sociedade sem Deus, só podem construi-la contra o homem. Não é nas Encíclicas Sociais que o materialista leu isso — ele tem ranço delas —, não é Plínio Salgado que lhes revelou. É ele mesmo que descobrirá, pelas luzes da reflexão, e pela Graça misericordiosa de Deus.

Julgo que continuo, desde que me tornei presidente da Frente Integralista Brasileira, numa campanha para trazer à superfície o verdadeiro Integralismo de Plínio Salgado, muitas vezes confundido com o pseudo-integralismo criado pela URSS e disseminado pelo DIP, que é mentido até os dias de hoje por uma academia e uma imprensa que se balançam monotonamente na vida nacional — indo do liberalismo ao socialismo e do socialismo ao liberalismo —, e que, por isso, vê com bons olhos as mentiras lançadas contra Plínio Salgado e o Integralismo. Entendem que tais mentiras são armas necessárias para manter o povo brasileiro ignorante da obra de seus patrícios, e apático quanto à mediocridade da vida sociopolítica, onde esses elementos da pseudo-imprensa e da pseudo-academia encontraram lugar ao sol numa posição privilegiada. Pensam que e é exatamente na inércia que o brasileiro precisa se manter.

Só o Integralismo pode romper essa monotonia, esse “estar parado” no movimento de vai e vem que suga a força de nossa Pátria. E, tendo eu trazido a obra O Integralismo na Vida Brasileira de volta à superfície, julgo oportuníssimo disponibilizar aos camisas-verdes, agora, este importante material, com o qual mergulharão profundamente em sua Revolução Interior. Depois dela, estarão em condições de melhor trabalhar pela Revolução Subjetiva e Objetiva de que o Brasil necessita, e que nosso povo tanto anseia.

Pelo bem do Brasil,
Anauê!

Moises Lima