“A Marcha”, de 7-8-53, publicou, ao lado da resposta de Plínio Salgado a “uma brasileira”, o seguinte:

“Carta a Plínio Salgado – Doloroso testemunho de uma mãe brasileira – Problemas sociais e morais de que depende a sobrevivência da Pátria – A resposta ao apelo de uma nobre mulher cristã”.

Entre a volumosa correspondência dirigida a este jornal, de todos os pontos do país, na qual se revela a angústia de nossos patrícios em face do panorama de decadência moral que nos oferece a sociedade contemporânea, chegou uma carta dirigida a Plínio Salgado, cujos artigos em nossas colunas vem abalando os corações de quantos ainda guardam, no íntimo do espírito, aquelas forças vitais que constituem a legítima esperança de salvação da nossa Pátria.

É uma carta que traz, como assinatura, apenas estas palavras: “DE UMA BRASILEIRA”. Em estilo límpido e expressivo, expõe uma situação dolorosa e aflita e, nas frases finais sugere uma ideia de grande alcance, a qual poderá ser o começo da ressurreição nacional.

Em seu artigo Plínio Salgado respondeu a essa carta e dirigiu uma proclamação às mulheres do Brasil, no sentido de se pôr em prática a sugestão da distinta senhora que lhe dirigiu a impressionante e tocante missiva.

Com a devida licença do destinatário, publicamos abaixo a carta a que nos referimos, a qual está concebida nos seguintes termos:

“Sr. Plínio Salgado

Tenho acompanhado toda sua obra de educação e levantamento moral do povo da nossa terra. A sua vida de apóstolo do bem tem sido compreendida por poucos, deturpada por muitos e incompreendida pela maioria.

Tinha que ser assim. Quem se levante em nome da fé e por amor à Cruz de Cristo numa época de degradação e negação de tudo que é cara à alma cristã, terá que receber, como prêmio dos homens, o peso das injustiças, das calúnias e da incompreensão.

A sua persistência no caminho da verdade é a prova do seu valor como homem público e da sua predestinação para a maior obra educacional, cívica e moral do povo Brasileiro.

Tenho acompanhado a sua obra tantas vezes interrompida e tantas vezes recomeçada com o mesmo entusiasmo e vigor.

Parece que dia a dia menor se torna o eco das suas propagações por falta de ressonância na alma nacional. É tão doloroso sentir isto, que só a força da fé nos dá alento para não cairmos no ceticismo negativo dos vencidos sem reação.

Não tenho capacidade para apresentar, ao senhor, tudo aquilo que sinto diante do espetáculo da vida moderna. O meu mundo interior, fruto da observação diária do mundo exterior, é cheio de sobressaltos e tristezas.

Assisto atônita e aflita a derrocada completa de tudo que recebemos dos nossos antepassados como sendo a razão da nossa existência humana e de uma vida digna — o temor a Deus, o respeito à tradição, o apego à família, a prática do bem, o amor à Pátria.

Sinto que caminhamos para o fim de tudo isto e sofro e penso o que será a vida do meu filho, criado no culto da verdade e ouvindo os ensinamentos que ouvi, diante de um mundo ainda mais agnóstico e pervertido do que esse que eu assisto e caminhar vertiginoso para a derrocada.

Sofro, vendo meu filho que em casa recebe o exemplo de um homem de bem que é seu pai, que vive, graças a Deus, num ambiente de respeito e amor, que ouve os ensinamentos de amor aos seus semelhantes, de respeito a tudo que nos é caro, de abnegação e devotamento à Pátria, encontrar, quando entrar na vida como cidadão, um mundo que não poderá compreender e uma sociedade que não saberá reconhecer como aquela para a qual foi educado e preparado.

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Que será do meu filho?

Como educá-lo para não sofrer a crise moral dos inadaptados diante de um mundo estranho a seus sentimentos e à sua formação?

Mostrar-lhe a perversão, os vícios de uma sociedade corrupta, o desamor a Deus e à Pátria, o desrespeito à família e à honra?

Despertar no seu espírito em formação a desilusão de ver fora do lar a negação de tudo que lhe é ministrado?

Incutir no seu espírito, despertando para a vida, a luta contra todo aquele que não agir, não pensar e não sentir com ele?

Tudo isto vive no meu mundo interior e sinto ânsia de lutar por uma renovação que venha restaurar o caráter, a honra, o respeito, a dignidade e a fé.

Lembrei-me então de lhe expor esses meus sobressalto e dizer que milhares e milhares de mães nesse Brasil sentem e sofrem como eu.

O meu apelo é o apelo mudo de todas as mulheres que nas horas de meditação procuram vislumbrar o caminho a seguir para garantir aos filhos um mundo melhor.

Com o seu poder de argumentação, com o seu valor de intelectual e grande tribuno, com sua capacidade de pregação, inicie a campanha pela recuperação do valor da mulher, conquistando o seu apoio na luta pela salvação da família e da Pátria.

Inicie a pregação, despertando a mulher para a luta contra o mal; fale, estimule aquelas que já sentiram a necessidade da luta e não sabem como lutar; acorde com seu grito de alarme as que estão embotadas pela clima de comodismo e indiferença; sacuda com sua palavra enérgica as que não ouvirem seu grito. Fale muito, só o senhor poderá ainda conseguir alguma coisa.

É a mulher a chave da formação moral dos homens.

Fale às mulheres, já que os homens, na luta da competição, na voragem dos sentimentos inferiores, na degradação dos costumes, não ouvem e não querem ouvir a palavra do bem.

A mulher, mesmo aquela que já se contaminou com o micróbio materialista da vida moderna, é mais acessível que o homem, que se julga, principalmente quando no erro, o detentor de uma personalidade intangível.

Tenho acompanhado os seus artigos n’A Marcha e fiquei pensando numa campanha de salvação da família, se procurarmos salvar a mulher da onda de vícios que também a está arrastando para o caminho da deformação moral.

Milhares e milhares de mulheres, nesse Brasil, lhe acompanhando nessa jornada, e a sua pregação ecoará, ressoará com mais força nesses corações depois tão intensa será essa vibração que o eco da sua voz ficará repetindo os seus ensinamentos até acordar a alma feminina para a maior obra que lhe estará reservada: a salvação da Família e da Pátria.

Não é possível só se ter capacidade de sofrer e não se ter a de reagir e construir.

Dê um crédito de confiança às mulheres do Brasil

Que Deus o proteja e o inspire nessa campanha.

De uma brasileira.”