Nada mais digno, nada mais belo nem mais glorioso do que o Trabalho; nada mais nobre, mais significativo no plano do Universo do que o Trabalhador.

O Trabalho não é apenas uma necessidade, porque é uma condição de harmonia universal. Energia, no plano humano, conduz as Nacionalidades e suscita as Civilizações.

Essência da própria matéria, a força é o Trabalho, obe­decendo no mundo físico à vontade consciente, ordenadora de Deus. Elemento fundamental do aperfeiçoamento humano, a energia da inteligência e dos músculos é também Trabalho, obedecendo, no mundo social, à vontade consciente do Homem, orientada pelo livre-arbítrio, supremo dom que o Criador ou­torgou à criatura humana.

O Trabalho não é o “mais valor” de Marx. Porque o Trabalho é o valor único, o valor que não deve conhecer con­traste, numa concepção espiritualista da vida, da sociedade e do Estado.

O Trabalho não é um direito, porque é um dever. Como direito, escraviza; como dever eleva-se e liberta-se.

Como direito, o Trabalho mendiga diante dos Poderosos; como dever fortalece-se e impõe-se, salvando-se dos explora­dores e tomando dentro da Nação o lugar mais alto e mais digno.

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O Trabalho não pode ser o objeto de exploração do Capitalismo, nem o objeto de escravidão do Comunismo. O Traba­lho não pode ser o beneficiário da munificência e altruísmo do Estado; porque o Trabalho deve constituir a própria razão de ser da existência dos Governos, a fonte da soberania nacional, a inspiração da justiça, o imperativo que cria os deveres dos dirigentes, em face de um dever humano que decorre de uma lei natural.

O Trabalho não é antagonista do Capital, desde que o Capital se conserve nos limites justos do conceito cristão da propriedade. Pois o Capital é uma condensação do próprio Trabalho, uma soma de energias concretizadas num potencial econômico. Nestas condições, não compreendemos que o Tra­balho seja, nem antagonista, adversário, inimigo do Capital, e nem, tampouco, que o Trabalho e Capital devam harmonizar-se, no sentido que esta palavra adquiriu na técnica verbal dos teoristas burgueses. Só se harmonizam elementos “diferentes”, coisas distintas; ora, não se pode estabelecer distinção entre Capital e Trabalho (desde que se conservem nas linhas justas do conceito cristão) uma vez que um e outro representam a mesma coisa, em circunstâncias diversas.

A água não deixa de ser água, quer esteja em estado de vapor, quer se apresente em forma de líquido, quer nos apa­reça nos blocos sólidos do gelo.

O Comunismo pretende solucionar o problema econômico-social, como alguém que quisesse que todos os gelos e todos os vapores do mundo se liquefizessem, ou todos os líquidos se solidificassem ou se vaporizassem.

O Capitalismo quer manter distinções fundamentais entre a soma de Trabalho acumulado, de Trabalho em eficiência e de Trabalho em potencial.

Cumpre considerar o Trabalho como elemento único, apre­sentando-se em expressões diferentes. Na diversidade dos as­pectos, a unidade absoluta da energia humana. Consideramos Trabalho, o Capital; consideramos Trabalho, o esforço e reali­zação diária das eficiências humanas em ritmo de criação; e consideramos, ainda, Trabalho, a energia, a capacidade em po­tencial que se encontra em estado latente no cérebro e nos músculos daqueles que uma organização social errada conserva em disponibilidade.

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Trabalho acumulado (Capital); Trabalho em ação criadora (mão-de-obra); e Trabalho em disponibilidade (desemprega­dos); o Estado deve por todas estas formas zelar, submetendo-as, não a uma finalidade propriamente do Estado, mas aos su­premos interesses que essa finalidade objetiva: o equilíbrio so­cial e a felicidade humana.

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O Trabalho, elemento essencial, único das manifestações da vida do indivíduo, da família, do grupo profissional, da sociedade, do estado e da humanidade, nós o consideramos, ao mesmo tempo, como sujeito e como objeto. O Trabalho é sujeito, quando o encaramos como força propulsora da Econo­mia e fonte originária do Estado. O Trabalho é objeto, quando o tomamos como energia, cujo desenvolvimento deve subme­ter-se à moral humana e ao espírito de justiça e de equilíbrio que o Estado encarna.

Pois o Estado existe em razão do Trabalho. Se os homens estivessem parados, sem nada fazer, não haveria necessidade do Estado para garantir os direitos do Trabalhador e da sua famí­lia, numa palavra, os direitos da pessoa humana em ação, em movimento afirmativo e criador. Sendo o Trabalho um dever humano, espiritualiza-se, eleva-se de tal forma que exige ga­rantias, as quais são asseguradas pela Força do Estado. O Estado, pois, seria supérfluo, se o Trabalho não existisse. Existindo o Trabalho como dever, ele moraliza o direito do traba­lhador. Moralizando esse direito, exige uma execução de nor­mas éticas. Exigindo essa execução, engendra o conceito de Estado. O Estado, em última análise, é uma manifestação ju­rídica de Trabalho. O Trabalho, examinada a questão a fundo, é a fonte de todos os direitos públicos e privados, porque o direito, sendo um conceito de equilíbrio inspirado na morali­dade, só poderia ter origem num dever que oferece as normas seguras da moralidade.

O Trabalho procede de um alto pensamento espiritual. Essa a razão por que combatemos o capitalismo, que se ins­pirou no materialismo, na negação de Deus e do Espírito, para justificar a sua tirania e opressão sobre os trabalhadores. Essa a razão também por que combatemos o comunismo, pois este aceitou o conceito materialista do Trabalho, segundo ensinou a burguesia capitalista, e engendrou um antagonismo que, em última análise, nega a essência natural do Trabalho.

O Trabalho, para nós, espiritualistas e cristãos, é a fonte do espírito de justiça, da inspiração política e dos anseios de liberdade humana.

Plínio Salgado

Nota:

Extraído de: Madrugada do Espírito, Obras Completas, Vol. 7, pág. 437.