Mais uma vitória integralista — foi entronizado na sala das sessões da Câmara dos Deputados Federais a imagem do Cristo Crucificado.

O deputado Goffredo da Silva Telles Júnior, obtendo o apoio de muitos de seus colegas, tomou a iniciativa de propor àquela Casa do Legislativo tão magnífica ideia, hoje tornada realidade. Anteriormente, dando começo à gloriosa campanha preestabelecida em memorável reunião dos parlamentares do partido, o deputado Loureiro Júnior conseguira a aprovação da idêntica proposta na Câmara Paulista.

Ali, não foi sem alguns preliminares embaraços que triunfou a nobre aspiração cristã que o nosso representante encarnava. Houve os adversos, houve os tímidos e os prudentes, estes sempre armados de razões aparentemente sensatas. Entre os entibiados pelas ameaças comunistas e a animadversão dos livre-pensadores, uma opinião se destacou nos corredores do Parlamento, ponderando que não convinha, de forma alguma, expor o Cristo a uma derrota. A resposta de Loureiro Júnior foi pronta, exclamando: “Mas Cristo nunca temeu derrotas humanas; a sua morte na Cruz, para os que raciocinam mediante os êxitos deste mundo, foi uma derrota política, e nem por isso deixou de constituir a mais alta das vitórias”.

Os cristãos timoratos não tiveram, porém, do que se arrepender apoiando a proposta na Câmara Paulista; ela triunfou plenamente, e a solenidade pouco depois realizada honrou as tradições nacionais do Povo Bandeirante. Uma formidável multidão partindo da Praça da Sé e tendo à frente o Sr. Cardeal-Arcebispo, levou ao Palácio da Assembleia uma velha imagem do século XVI, diante da qual muitas vezes oraram os sertanistas desbravadores das florestas. Ali, com a presença dos Três Poderes, em sessão soleníssima, falou em nome da Câmara dos Deputados de São Paulo o nosso representante Loureiro Júnior, produzindo uma segunda peça oratória que completou, em harmonia de construção e coroamento de ideias, o discurso da apresentação do projeto. Na sua oração, o deputado integralista apreciou, principalmente, as relações entre a Religião e o Estado, desenvolvendo a doutrina do Sigma, que é, na verdade, a única verdadeiramente espiritualista, democrática e brasileira, a estabelecer os justos limites entre o Poder Público e os legítimos direitos e liberdades da pessoa humana.

Depois de São Paulo, os integralistas prosseguiram na sua Cruzadas em todos os Estados do Brasil, quer nas Assembleias Constituintes e Legislativos Ordinários, quer nas Câmaras Municipais.

Deputados, usando de palavra persuasiva quer ao apresentar suas propostas, quer ao discursar nos atos solenes; vereadores ardorosos na sustentação dos seus princípios e nas reivindicações para o Cristo das homenagens do Povo Brasileiro, e principalmente nas grandiosas festas que arrebataram em vivo entusiasmo os habitantes das cidades do nosso país, — todos cumpriram os compromisso perante o seu partido, e que muito mais o foram perante a própria Nação.

O exemplo começou, além do mais, a ser seguido; e onde não havia uma voz oficial do partido não faltaram simpatizantes, entre os quais muitos integralistas que, militando por circunstâncias causais ou oportunas em outras fileiras, continuam a obedecer à diretriz daquela matriz prodigiosa de espiritualidade e de patriotismo, que é a Ação Integralista Brasileira.

Já algumas centenas de cidades podem orgulhar-se de ter nos seus Legislativos a imagem de Cristo Crucificado entronizada.

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Essa iniciativa cristã e nacionalista não podia deixar de partir daquele movimento propôs e viu triunfante, na Constituição da República, o nome de Deus como ponto de partida do texto de nossa Magna Carta.

Realmente, foi o deputado Goffredo da Silva Telles Júnior, quem, na Assembleia Constituinte, apresentou a fórmula que diz: “Nós, os representantes do Povo Brasileiro, reunidos sob a proteção de Deus, em Assembleia Constituinte, para organizar um regime democrático, decretamos e promulgamos… etc.”.

O raciocínio do deputado integralista foi claro: para organizar um regime democrático, é preciso, preliminarmente, a fé em Deus, pois sem Deus não há democracia e quem não acredita em Deus não pode falar em democracia.

A democracia é o regime da liberdade e da responsabilidade; ora, a liberdade sem Deus tornr-se licenciosidade, abuso de fortes contra fracos, de ricos contra pobres; e a responsabilidade sem o conceito de um Ente Supremo que nos traça as regras morais e ao qual todos temos de prestar contas dos nossos atos, já não será mais responsabilidade, mas indefinição de consciência elástica.

O deputado Goffredo da Silva Telles Júnior, sendo um fervoroso cultor da doutrina integralista, não é um falso democrata, pois falsos democratas serão todos aqueles que não aceitaram os princípios do Integralismo que são: 1º) crença em Deus e na existência, imortalidade, liberdade e responsabilidade da alma humana; 2º) afirmação de tudo aquilo em que se exprime e manifesta a alma humana na sua liberdade: família, propriedade, pátria, soberania nacional; 3º) defesa desses meios de expressão, mediante garantia aos direitos individuais, assegurados pela ordem estabelecida por força do consenso nacional e executada pelo Poder Público; 4º) subordinação da vida nacional à hierarquia dos valores na seguinte escala: o Espiritual sobre o Social, o Social sobre o Nacional, o Nacional sobre o Individual, nunca porém ferindo-se em qualquer hipótese, os legítimos direitos da pessoa humana.

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Sendo um democrata verdadeiro, viu logo que a Democracia seria mentirosa, se não partisse da crença em Deus, pois todas as democracias que se tem criado, com caráter agnóstico, terminaram em Ditaduras da Esquerda ou da Direita.

Deve, portanto, a Nação, à iniciativa de um integralista, o nome de Deus na Constituição. Nada mais lógico, por consequência do que ter sido esse mesmo deputado o proponente da entronização da imagem de Cristo na Câmara dos Deputados Federais, do mesmo modo como já foram os seus colegas estaduais os pioneiros da mesma iniciava nas diversas circunscrições da República, seguidos pelos vereadores integralistas em toda a extensão territorial da Pátria.

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O que significa essa vitoriosa campanha é matéria para meditação dos espíritos ainda capazes de se aprofundar nos acontecimentos históricos, numa época de tamanha superficialidade. De minha parte, quero aqui registrar o meu intimo contentamento, a minha alegria de alma, ao considerar essas sucessivas entronizações em torno das quais unimos todos os partidos, todos os homens de boa vontade.

Se o Partido de Representação Popular nada tivesse feito para justificar historicamente a sua existência, bastaria o ter tomado a vanguarda nessa verdadeira cruzada nacional, para que tivesse cumprido integralmente o seu destino.

Por coincidência a entronização da imagem de Cristo Crucificado na Câmara dos Deputados Federais ocorreu no dia 3 de maio, dia de Santa Cruz. Pelo calendário gregoriano, celebra-se nessa data a Descoberta do Brasil.

O Brasil é a terra da Cruz. Portanto, a Pátria do Evangelho. Deve aqui imperar, em tudo, na ordem social e política, na ordem familiar e na ordem individual, o sentido da Cruz, ou da Redenção, a Lei de Jesus Cristo, única chave da felicidade e da paz dos povos.

Quando Cabral avistou a nova terra, celebrava-se a Páscoa, festividade que em última análise, para nós cristãos, constitui a glorificação da Cruz do Salvador. Era isto em 22 de abril, pelo calendário juliano. Pois bem; oitenta e dois anos mais tarde (1582) o Papa Gregório XIII reformou o calendário e, pelo novo calendário, aplicado retrospectivamente, a data da Descoberta do Brasil cai em 3 de maio, dia de Santa Cruz, dia em que se comemora a descoberta da Cruz, no ano de 306, pela Imperatriz Santa Helena.

Quem era a imperatriz Santa Helena? Era a mãe de Constantino, aquele imperador romano, que viu no céu a Cruz, com o dístico “In hoc signo vinces”. Com este sinal vencerás… E o Brasil, descoberto no dia 22 de abril de 1500, que nome teve? O de Terra de Santa Cruz. E isso ocorre oitenta e dois anos antes da reforma do calendário, que coloca a chegada de Cabral à nossa Pátria no dia de Santa Cruz.

Mas não fica aí o mistério da Cruz. Esta imensa terra, quando cai a noite, é coroada por um diadema de estrelas, no qual esplende a Cruz. O Cruzeiro do Sul marca uma predestinação.

Observai, porém, coisa mais impressionante. Pelo Tratado de Tordesilhas, seriamos apenas uma faixa de terra junto ao Atlântico. Mas os Bandeirantes alargaram o nosso patrimônio territorial. Alargaram, porém, mais ao Norte do que ao Sul. Por quê? Circunstâncias geográficas, históricas, seja o que for, trouxeram como consequência esta maravilha cartográfica: o Brasil, esquematicamente, tem a forma de uma Cruz.

Tudo isso não são sinais de alguma predestinação?

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O discurso do deputado integralista na Câmara Federal, no dia de Santa Cruz, expôs, magistralmente, a doutrina política do tão caluniado, tão deturpado, tão desconhecido Integralismo: a democracia cristã, a política inspirada na Cruz do Salvador. Foi uma peça admirável, dita com aquela maestria e alto valor cultural que todos admiramos em Goffredo da Silva Telles Júnior.

Revelou, ainda, a unidade de pensamento doutrinário dos populistas, [1] pois quem houver ouvido ou lido os discursos de Loureiro Júnior, de Rubem Nogueira, de Joel Barbosa, de Zagonel Passos, de Lara Vilela, e de outros deputados integralistas nas Assembleias Estaduais, ou as orações dos vereadores ou prefeitos de partido em idênticas solenidade de entronização do Crucificado, notará que, distantes e dispersos, esses homens exprimem, em variada forma, uma extraordinária uniformidade de conceitos históricos, filosóficos e políticos.

E, nesta altura, surge-me uma ideia: por que não reunir, num grande volume, com os retratos dos autores e dos edifícios onde o Cristo foi entronizado, todos os discursos dos deputados, vereadores e prefeitos integralistas?

Nota da Edição:

[1] A partir de 1946, os integralistas se organizaram no Partido de Representação Popular, como explicado nos capítulos deste livro. O novo nome do partido fez com que seus membros se chamassem de “populistas”. No século XXI, a palavra assumiria uma conotação política diferente, com a ascensão de líderes populares de direita e esquerda que receberam a mesma denominação.