O único partido nacional que existiu no Brasil depois da proclamação da República foi a Ação Integralista Brasileira. Os partidos do Império já praticamente não existiam quando o golpe de Estado do Marechal Deodoro surpreendeu a Nação. Eles tinham perdido a sua vitalidade, desde quando, nos meados do século, o Marquês do Paraná organizou um ministério de conciliação visando apenas a obra administrativa com absoluto desinteresse pelas ideias políticas. A partir da queda do gabinete de Zacarias de Góis, começou a interferir na vida política do país o poder pessoal do Imperador, desejoso de fazer funcionar o sistema parlamentar, ainda que artificialmente, uma vez que, subindo ao poder, cada partido pretendia eternizar-se nele. Essa interferência de D. Pedro II acabou de esfacelar os partidos, os quais já não possuíam mesmo nenhum poder de sedução sobre o povo brasileiro.
Surgiu, então um partido novo, portador de ideias; era o partido republicano. Não se firmando nos seus próprios princípios, a Monarquia não teve servidores apaixonados. Dessa maneira, na madrugada de 14 de novembro o trono ruiu por terra, sem que ninguém reagisse. Amigo de todos, amigo de ninguém. O Imperador caiu porque quem não prestigia a doutrina em que se deve firmar, não encontra quem o prestigie na hora difícil. A República foi uma consequência natural do esfacelamento dos partidos do Império. Mas, instaurado o novo regime, ele também surgiu sem partidos. A República Presidencialista era a própria consagração do “poder pessoal”, pelos republicanos tão malsinado e por eles agora adotado. Os Presidentes da República fundaram o seu prestígio na chamada “política dos governadores”, desde logo adotada, mas consagrada explicitamente pelo Presidente Campos Sales.
A República passou a ser um regime de “partido único”, o partido republicano, que tomava coloração diversas nos Estados da Federação, acrescentando ao PR a inicial do Estado em que funcionava. Foram extintos definitivamente os partidos nacionais, para só existir oposições estaduais, todas, porém, filiadas ao partido único do totalitarismo republicano.
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Em 1930, ruiu esse sistema e o Brasil caiu na autarquia do chamado Poder Discricionário, com nomeação de interventores para os Estados, como o Imperador nomeava os Presidentes das diversas unidades da Federação.
A evolução da vida política brasileira processou-se, como se vê, no sentido de atingir o absoluto governismo, tendente ao mais acabado totalitarismo. Podemos estabelecer as fases dessa evolução:
- Partidos nacionais com ideias e vitalidade própria, a partir da Independência até 1852 (ministério de concentração nacional do Marquês do Paraná);
- Partidos nacionais sem ideias nem vitalidade própria, funcionando como simples máquinas eleitorais de conquista do Poder, desde 1856 (morte do Marquês do Paraná) até 1868 (queda do gabinete de Zacarias);
- Partidos manobrados pelo Poder Pessoal do Imperador, funcionando artificialmente em todo o Brasil, a começar em 1868 até à proclamação da República em 1889;
- Extinção dos partidos nacionais e imposição do Partido Único (o Republicano) constituído de 21 máquinas políticas acionadas pelos 21 governadores dos Estados, a principiar com a proclamação da Republica até 24 de outubro de 1930;
- Extinção total de todas as máquinas partidárias dos Estados e advento do Poder Pessoal, sob o nome de Poder Discricionário, isto é, num Poder mil vezes mais pessoal do que o do Imperador, pois este ainda manobrava com partidos, e mil vezes mais arbitrário do que o poder pessoal dos Presidentes da República, pois estes ainda manobravam com os governadores que eram eleitos pelo povo.
Em plena vigência desta situação de absoluto totalitarismo, de perfeita e completa autocracia, de supressão da soberania popular, surgiu em 1932, com raízes nos tempos da Independência do Brasil, um movimento que visava fundar no país, um partido nacional para restaurar a democracia e restituir ao povo a sua dignidade de pensar e de manifestar-se.
Esse movimento foi o Integralismo. O partido nacional que fundou foi a Ação Integralista Brasileira.
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Dois acontecimentos ficarão para sempre evidenciando e redimindo a dignidade do povo brasileiro sob a opressão da tirania que se implantou em nossa Pátria em 24 de outubro de 1930, com a elevação ao Poder da Ditadura discricionária, Ditadura essa que não podemos, sem grave injustiça, imputar exclusivamente a um homem, porque este homem nunca a poderia exercer sem o apoio de um grupo que dispunha de toda a força naquela ocasião.
Esses dois acontecimento foram a Revolução Constitucionalista, que é um erro denominar-se apenas pelo nome de Revolução Paulista, porquanto por ela se pronunciou o povo em todo Brasil, sendo esmagado pelos órgãos policiais da Ditadura, e o lançamento do “Manifesto de Outubro de 1932”, com o qual se fundou a Ação Integralista Brasileira.
O primeiro daqueles acontecimentos não tinha, porém, profundidade, porque não se pode avaliar a significação histórica de um fato pelo barulho que ele faz ou pelo traumatismo ocasional que ele determina. A Revolução Constitucionalista era apenas o desejo do retorno à base legal da política brasileira. Era um desejo, inegavelmente, nobre, mas se lograsse concretizar-se não traria senão os resultados medíocres que se colheram em 1934, com uma Constituição que nasceu sem meios de a si própria defender-se. E podemos mesmo dizer que a Revolução Constitucionalista, embora vencida pelas armas em 4 de outubro de 1932, triunfou moral e politicamente, pois forçou a Ditadura a convocar a Constituinte que produziu a Carta de 1934. As consequências da coexistência de uma política ideal (a da Constituição) e de uma política real (a da vida brasileira) vimos em 1937, com o novo golpe de Estado. Mas, não nos antecipemos.
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O segundo daqueles dois acontecimentos a que estamos nos referindo (o advento da Ação Integralista Brasileira) revelava na sua expressão e no seu processo vital a profundeza das suas raízes que iam buscar energia na própria alma nacional, no sentimento comum dos brasileiros e na tradicionalidade histórica.
Era a primeira vez que, depois da República, se organizava no Brasil um partido de índole, de temperamento, de âmbito nacionais.
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A Ação Integralista Brasileira encontrou o povo brasileiro em completa disponibilidade doutrinária e sentimental. Descrente dos partidos, desde o Império, acabou descrendo do regime monárquico; desiludido com a República acabou desinteressando-se pelas formas de governo; indiferente às formas de governo, acabou — ao cabo de 43 anos de comédia política — numa apatia dolorosa, num cotidianismo rasteiro de interesses vulgares, que o melancolizava intimamente, fazendo-o sonhar, em devaneios inconfessáveis, o advento de alguma coisa indefinida que talvez se definisse e o salvasse.
Nos recessos da alma nacional existia uma força desconhecida pelos políticos, pelos militares, pelos estadistas, pelos sociólogos, pelos historiadores, por todos aqueles que apreciavam o nosso povo, tão generoso e tão bom, mas tão incapaz de adaptar-se às experiências institucionais ou partidárias tentadas pelas elites europeizadas ou americanizadas, ou super-intelectualizadas no convívio de escritores estrangeiros.
O Integralismo surgiu com a certeza de que o povo brasileiro não era um povo inteiramente perdido, pois o que faltava era algum ou alguns caboclos genuína e retintamente brasileiros, pelo nascimento, pelo convívio, pela formação desde a infância, pela comunhão de sentimentos com a grande terra e o grande povo, os quais despertassem nos seus compatriotas aquelas mesmas forças vitais que eles, caboclos, sentiam nas profundezas de suas próprias almas. [1]
O Brasil — raciocinavam os primeiros integralistas, aqueles que comigo saíram para continuar, sob o ponto de vista moral, o Bandeirismo dos séculos XVI, XVII e XVIII — é uma unidade diferenciada (consoante o velho conceito de Aristóteles). Tem interesses, peculiaridades, aspectos regionais, inerentes à diversidade geográfica e às condições econômicas; mas vive em função de um sentimento comum irremovível, porque vai buscar suas origens numa só base étnica inicial, argamassada ao concurso das três raças formadores e plasmada pelo gênio lusíada numa expressão moral cristã e numa expressão política de unidade, essa unidade que resistiu, em quatro séculos, a todas as tentativas de desagregação territorial da Pátria.
Tomaremos (refletiam os integralistas) todas as diferenciações como numeradores e todas as identidades como denominadores comuns. A soma dessas 21 frações há de dar um numerador igual ao denominador, isto é, a Unidade.
Assim pensando e sentindo, desfraldamos nossa bandeira.
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Peço aos políticos, peço aos meus próprios adversários, que prestem atenção ao que vou contar, se é verdade que desejam fundar partidos nacionais. Eu lhes direi como fundei aquele partido, que criminosamente foi guerreado, como nenhum outro em nossa História, pelos homens que fundaram no Brasil uma Ditadura Totalitária e sustentaram o Ditador durante tantos anos. Talvez a minha narrativa sirva de exemplo àqueles que pretendem dar vida a um partido nacional.
Primeiro escrevi um Manifesto, onde pus todo o pensamento e todo o sentimento cristão do povo brasileiro, com o qual sempre convivi, desde a infância e na minha atribulada mocidade. Nesse Manifesto fala o próprio espírito nacional brasileiro bem vivo desde o Amazonas ao Rio Grande do Sul.
Depois, em reuniões sucessivas, que eu já vinha realizando a partir de 1931, numa Sociedade de Estudos Políticos (SEP), meus primeiros companheiros e eu principiamos a debater problemas nacionais, desde os doutrinários aos práticos, e à proporção que íamos chegando a conclusões por todos aceitas, firmávamos, um a um, os nossos postulados. Identificados, assim, num só pensamento sem contradições, principiamos a nossa obra apostolar.
Tendo chegado à conclusão de que o nosso movimento, para ter base sólida em realidade, deveria processar-se de baixo para cima e nunca de cima para baixo, isto é, vir do povo e nunca dos governos, nem de grupos intelectuais plantados nas grandes cidades sem contato com a gente brasileira, principiei renunciando a toda e qualquer posição ou cargo político que me ofereciam naquela ocasião, para ser simplesmente homem do povo.
Este fato causou grande pasmo e estranheza entre outros ao General Waldomiro Lima, que me convidara para o mais importante posto do seu governo em São Paulo, por indicação mesmo do Ditador que (verdade seja dita) nunca deixou de me dispensar, nas mais variadas oportunidades, uma consideração que me poderia ter levado a usufruir, como tantos o fizeram, das vantagens do Poder. [2] Pus-me, portanto, a caminho, humilde e pobre como o meu povo, disposto a falar-lhe uma linguagem que ele entendesse.
Aos meus primeiros companheiros, declarei: “Nenhuma vantagem pessoal teremos neste apostolado. Pelo contrário, seremos ridicularizados e quando crescer o número dos nossos adeptos, seremos injuriados. Quando avultarmos mais, seremos caluniados. Se as proporções do nosso crescimento forem grandes, seremos perseguidos pelos governadores de Estado, porque não desejarão perder suas clientelas eleitorais. O comunismo se levantará contra nós, com agressões e atentados e também com uma propaganda que tentará deturpar nossos intentos. Dia virá em que uma grande perseguição cairá sobre nós. Ser-nos-á negado o direito de palavra para nos defender. Conheceremos prisões, maus tratos e toda sorte de sofrimento. Se estais dispostos a tudo isso, vinde comigo e anunciai as mesmas coisas a todos quanto vierem conosco. Não prometeremos empregos, nem proventos, mas somente dores e aflições. Porque o que levantamos é o sentimento da Pátria, a própria alma da Pátria, e isso não convém aos aproveitadores e exploradores da Nação, nem ao seu charlatanismo político”. [3]
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Então, principiamos a propaganda. Éramos poucos: estudantes, operários e alguns homens de classes liberais. Em vez de ficar nas capitais dos Estados ou na da República, organizamos o partido nacional, fomos de cidade em cidade, de lugarejo em lugarejo. Nada de comícios espetaculares nem de demagogia de fogos de artifício. Falávamos o que estava mesmo na alma do povo. E logo que aderiam alguns adeptos numa pequena cidade, fundávamos ali um núcleo. Nesse núcleo, instalávamos uma escola de alfabetização, uma ambulatório médico, uma pequena biblioteca, pois estávamos convencidos de que o povo precisava de instrução e de remédios, pobre povo brasileiro minado pela malária, pelas verminoses, pela tuberculose, pela sífilis, pelas tantas moléstias tropicais. No núcleo havia uma sala maior, onde semanalmente, sem falta, um doutrinador do lugar ou de fora, pregava a nossa doutrina, que afinal era a própria doutrina do povo brasileiro, o qual dela se havia esquecido, mas que a possuía no íntimo d’alma.
Víamos que ninguém sabia cantar o Hino Nacional e então ensinamos letra e música. Em certos lugares, topamos com populações genuinamente brasileiras, netos ou bisnetos de estrangeiros, que não sabiam falar a língua da nossa Pátria. Nesse caso, fundávamos escolas de língua portuguesa, as quais foram mais tarde fechadas pelos “nacionalizadores” de encomenda…
Instituímos o culto da Bandeira Nacional e dos heróis da Nação. Ninguém sabia quem eram Caxias, Osório, Tamandaré, Gonçalves Dias, José de Alencar. Nós ensinávamos a biografia desses e de outros brasileiros ilustres. As datas nacionais já não eram festejadas senão pelas solenidades frias e protocolares de comemorações oficiais das quais o povo não participava. Ensinamos ao povo o entusiasmo por essas datas. Os integralistas compareciam a todas as festas cívicas, quer as promovidas por eles mesmos, quer as promovidas pelas autoridades, e batiam palmas, e aclamavam. O nosso povo já não sabia bater palmas. Se desfilavam tropas das nossas Forças Armadas, lá estavam os integralistas batendo palmas à sua passagem. Com isso habituavam todo o povo a fazer o mesmo.
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Essas coisas, meus companheiros e eu fizemos em todos os Estados, percorrendo cidade por cidade. Éramos pobres. Íamos em carros de segunda classe. Quando as viagens se faziam de automóvel, os companheiros de cada cidade nos levavam à cidade mais próxima onde houvesse companheiros e estes pagavam a viagem ao lugar seguinte. As viagens de navio eram custeadas por subscrições que anteriormente se promoviam. Lembro-me de uma em que entreguei um conto de réis, parte de meus direitos autorais recebidos pelo livro “Psicologia da Revolução” para completar a quantia necessária à viagem ao Nordeste, em companhia de Hermes Barcelos, Capitão Aristófanes e Tiers Martins Moreira. O dinheiro acabou na Paraíba. Prosseguimos em caminhões das obras contra as secas, que levavam materiais de um açude a outro. Atravessamos assim todo o sertão e chegamos a Fortaleza, onde Jeová Mota, o Padre Helder Câmara e o saudoso Carvalhedo pagaram nossas passagens até Recife. Ali tive a surpresa de um telegrama de meus editores (Civilização Brasileira) pedindo autorização para mais uma edição do meu livro, cuja primeira se esgotara rapidamente. Saquei por conta numa livraria local e assim pudemos chegar à Bahia, onde achei ordem de Arnaldo Magalhães, de Vitória, pagando nossas passagens à Capital do Espírito Santo. Em Vitória nos esperavam Madeira de Freitas e Gustavo Barroso que traziam o produto de uma subscrição feita no Rio para a viagem por trem.
Era assim que se apostolizava. É assim que se funda um partido nacional. Os políticos ficavam no Rio, politicando. Nós íamos de cidade em cidade. Desse modo crescemos, enormemente. Então vieram as perseguições.
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Se em 1932 salvamos o Brasil do vírus do separatismo, também o salvamos em 1935 da catástrofe do comunismo. Em 1932, em muitas cidades paulistas fui vaiado quando desfraldei a Bandeira Nacional, mas falei da glória dos Bandeirantes, do papel que a São Paulo cabe nas responsabilidades pela Unidade da Pátria e terminei recebendo aclamações daquele povo generoso e cheio de nobreza.
Com grande comoção fui informado em Curitiba pelo Dr. Vieira de Alencar que ouvira dos lábios do ilustre militar General Osvaldo Cordeiro de Faria o relato do que representou a minha batalha contra o separatismo em 1932. Realmente, foi dura, mas venci e consegui fazer da juventude, que se batera nas trincheiras da guerra constitucionalista, a fonte dos apóstolos inicialmente mais eficientes do grande movimento nacional. Sobre a revolução comunista de 1935, ainda não foi feita a completa história. Asseguro, entretanto, que ela teria tido proporções colossais se não existisse o Integralismo.
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O maior crime praticado pela Ditadura que se implantou no Brasil em 1937 foi a perseguição a ferro e fogo que se fez a esse grande e redentor movimento de salvação nacional. Além da perseguição, a Ditadura facilitou aos comunistas a obra do desvirtuamento das intenções que nutríamos, eu e os meus companheiros. A nossa doutrina foi deturpada. As mais horrendas calúnias foram atiradas contra nós, inclusive a de sermos portadores de uma ideologia exótica, a de pugnarmos pelo extremismo, a de termos ligações com governos estrangeiros. Disseram isso do movimento caboclo, do movimento cristão, do movimento patriótico, que ensinou o culto dos heróis nacionais, da Bandeira da Nação, da honra da Pátria, da sua independência. Estávamos amordaçados. Nem uma voz se levantou para defender-nos… E, no entanto, todos sabiam que o que se dizia de nós era mentira. A conivência com a Ditadura foi a pagina mais negra que assinalou a atitude de todos os responsáveis. Essa atmosfera de terror produziu a mais tétrica das consequências nos dias de hoje. O povo está com medo de ser patriota. O povo tem medo de se levantar contra o comunismo. As famílias horrorizam-se diante da perspectiva de ver novamente presos, espancados, injuriados, deportados, condenados os seus chefes pelo crime de amar a Pátria.
Nunca se praticou maior crime contra a Nação. A juventude, que se levantara cheia de sonhos e idealismos construtores, jaz hoje numa disponibilidade de cadáveres. Foi obra da Ditadura, que além disso, desfibrou os caracteres, ou pela ameaça ou pelo suborno, ou pelo exemplo de muitos que se locupletaram materialmente com os oito anos de eclipse das liberdades.
Urge, hoje, para salvar a Pátria enquanto é tempo (ainda será tempo?) reerguer a alma da Nação Brasileira. Recomecei a salvação do meu Brasil. Que os homens dos outros partidos, façam o mesmo. Mas não será no Rio de Janeiro, nem nos conchavos políticos, nem na ronda pela conquista de ministérios, nem nas manobras eleitorais, nem na bajulação, nem na demagogia, que cumprirão o mais alto dever de consciência perante a Posteridade.
Será pregando, ensinando, educando, de cidade em cidade, com profundo desdém pelos cargos, pelas posições, pelo mandonismo, pelas combinações sempre estéreis de uma política hipócrita e sem alma. Vamos ao povo! Vamos ao coração do Brasil! Não pensemos nos pratos de lentilhas. Pensemos na salvação da Pátria.
Notas da Edição
[1] “No fundo da alma de qualquer povo dormem, ignoradas, forças infinitas. Quem as souber despertar, moverá montanhas“. Gustavo Barroso.
[2] Barreto Pinto, amigo pessoal de Getúlio Vargas e seu aliado político, relatou no Diário da Noite em 21 de maio de 1953 que, em conversa com o ditador, ouviu de sua boca, entre 1937 e 1938: “É um esquisitão esse chefe dos camisas-verdes. Todo mundo quer ser ministro! Ele já recusou duas vezes a pasta que lhe mandei oferecer. Pretendi fazê-lo embaixador. Recusou o gostoso lugar, tão ambicionado“.
[3] Em 1936, na Offensiva, Plínio escreveu: “Se eu tivesse tido o bafejo de algum poderoso, quando lancei o Manifesto de 7 de Outubro, em São Paulo, o qual se irradiou por todo o país, eu nada teria conseguido, pois as adesões seriam apenas de interesseiros. A sorte do nosso movimento foi ter nascido na pobreza, por ter sofrido o desprezo, o pouco caso, a ironia, a chalaça, agressões de bolchevistas, perseguições, ameaças, violências, prisões. Foi isso que deu força ao Integralismo. Foi uma obra de seleção. Entraram para o Integralismo tipos selecionados, com grande capacidade de resistência moral, forte estrutura de caráter, extraordinária vibratilidade de sentimento e poder de emoção criadora. Os fracos não resistiram às dificuldades. Este movimento era um recrutamento de fortes. Se tivéssemos facilidades de empregos, de dinheiro, de propaganda pela imprensa ou pelos métodos modernos, nada faríamos. Eu percorri todo o país, curtindo necessidades. Multiplicavam-se os idealistas que também se punham em marcha apostolar. Marcha penosa, sem recursos de dinheiro, sem comodidades. Chegávamos humildemente às cidades brasileiras. Que prometíamos? Sofrimentos. Nada damos e exigimos tudo era a nossa palavra. Afirmávamos porém que Deus não se esqueceria daqueles que, para espiritualizar o Brasil, para construir a Grande Pátria Cristã, souberam esquecer os partidos, os interesses, as amizades, as vaidades, o conforto, enfrentando todas as agressões morais e físicas dos maus. Afirmávamos que os nossos descendentes saberiam um dia fazer justiça aos nossos propósitos. E foi assim que eu consegui arregimentar um milhão de brasileiros”.