A minha orientação filosófica baseia-se na concepção do Homem Integral, expressão esta que se tornou necessária para se compreender simplesmente o Homem, em face das diminuições e deturpações a que tem sido sujeito o substantivo que designa o  ser Humano.

Assim, ao conceito unilateral do Liberalismo que toma o Homem apenas sob o aspecto cívico e ao conceito Socialista que considera o Homem apenas sob o aspecto econômico eu oponho a concepção do Homem completo, íntegro, isto é, que contém em si o ente cívico, o ente econômico e ainda, e sobretudo o ente espiritual. Deduzo, daí, que o Homem nutre aspirações e objetiva interesses políticos, econômicos e religiosos.

Acerca dessa concepção do Homem Integral ou simplesmente do Homem tenho desenvolvido minha Doutrina, desde o Manifesto de Outubro de 1932, podendo mesmo dizer que tais ideias precederam a minha ação social e política nos livros e documentos a que dei publicidade a partir de 1926 com o romance “O Estrangeiro”. Ainda agora no meu livro “Direitos e Deveres do Homem” demoro-me na exposição da minha Doutrina da qual faço o resumo, porventura o mais completo. Tomando assim o Homem na sua integridade, faço dele a base de toda a construção social. Considero como o mais precioso dos dons da criatura humana a sua liberdade, combatendo todas as Doutrinas que a pretexto de sustentar um daqueles aspectos unilaterais a que há pouco me referi, ferem a principal prerrogativa do Rei da Criação. Parto da firme convicção religiosa de que o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus; por conseguinte sendo Deus livre e fazendo o Homem à sua imagem e semelhança, fê-lo naturalmente livre. Mas Deus criou o Homem para algum fim. Decorre forçosamente, desse fato, o dever do Homem no sentido de procurar atingir esse fim. Para atingir esse fim o Homem necessita ser livre. Qualquer impedimento à sua liberdade deve ser combatido. Nem o Estado, nem certos grupos de sociedade podem, sem transgredir as leis eternas, criar condições que impeçam o Homem de procurar livremente o fim para o qual foi criado. O Homem é livre e como consequência tudo o que representa as suas projeções no Espaço e no Tempo há de forçosamente participar de sua liberdade.

As projeções do Homem no Espaço e no Tempo são os grupos naturais e as instituições que garantem materialmente a manutenção do Homem e dos grupos naturais na plenitude de sua liberdade.

O primeiro dos grupos naturais é a Família, essa pequena República onde o Homem exercita o magistério da sua dignidade e da sua responsabilidade; tudo, pois, que contribua para a destruição da Família é por mim combatido.

No entanto, para manter-se e manter sua Família, o Homem necessita de meios materiais que conquista pelo seu trabalho. O trabalho do Homem, portanto, tem de ser livre e remunerado de acordo com as suas responsabilidades e necessidades pessoais e familiares. Para garantir essa liberdade e essa justa retribuição, o Homem une-se a outros homens nas associações do trabalho as quais, logicamente, devem ser livres no exercício de seus direitos e no cumprimento dos seus deveres, que jamais devem assumir aspectos antissociais e destruidores das próprias liberdades.

Pelo trabalho remunerado com justiça, o Homem adquire propriedades que se tornam base física das garantias de Liberdade de sua Família e de si próprio. Por conseguinte, sustento o princípio da propriedade, contra os objetivos socialistas da estatização dos bens ou dos meios de produção.

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Ocorre, ainda, que as Pessoas Humanas, as Famílias, as Propriedades e os Grupos de Trabalho se encontram em algum ponto do território de um País, o que cria interesses comuns de outra natureza; é o Município, o qual participa da autonomia dos Grupos e das Pessoas que o constituem. Essa, a razão pela qual me bato pelo Municipalismo, pelo fortalecimento dessa célula da Nacionalidade pretendendo que se lhe confiram os meios financeiros para que seja ele verdadeiramente autônomo, e não fique subordinado aos caprichos dos governantes dos Estados.

Finalmente, todos esses termos: O Homem, a Família, as Propriedades, os Grupos de Trabalho e os Municípios, formam a Nação. A Nação é, para mim, o Grupo Natural que sintetiza todos os outros, e que, portanto, participa das liberdades de cada elemento que a compõe. Daí decorre o princípio da Soberania Nacional, da independência da Pátria, as quais não devem nem podem subordinar-se nem ao arbítrio de grupos que nela se formem como quistos nem — muito menos — à influência ou dominação de outras Nações imperialistas muitas vezes disfarçadas pela pregação de doutrinas políticas, como é o caso da Rússia Soviética.

Sobrepairando a todos os Grupos Naturais existe aquele que diz respeito direto ao fim último do Homem: é a Sociedade Religiosa, cuja liberdade só não é mantida nos Países onde impera o totalitarismo absorvente do Estado, como foi o caso do nazismo e presentemente da Rússia e dos Países satélites onde assistimos às mais violentas perseguições a todos os credos religiosos.

Dentro desses conceitos é fácil dizer como considero a situação atual do Brasil. Entendo que não estamos estruturalmente organizados de sorte a não, apenas, sustentar a liberdade do Homem e dos Grupos Naturais, mas ainda, e principalmente, evitar que a nossa Pátria caia na desgraça de ver abolidas aquelas liberdades sob o pretexto de um socialismo materialista. O Homem brasileiro, enfermo, sem assistência; o seu Trabalho sem estímulo, pois invertem grandes somas em edifícios suntuários, avenidas magníficas, belos confortos nas grandes cidades, ao passo que a nossa produção proporcionalmente, cai por falta de auxilio, de critério, financiamento e assistência técnica aos nossos lavradores; a obra educacional de nosso povo é por assim dizer nula pois no Brasil entende-se que basta alfabetizar ou dar instrução secundária ou superior, sem que se forme a consciência das realidades e das necessidades que constituem a verdadeira cultura.

Vemos as Famílias dia a dia se dissolverem por imperativos econômicos ou pela influência nefasta de uma propaganda totalitária de desmoralização dos costumes.

Vemos os Municípios com uma renda reduzidíssima que corresponde a 5 por cento do total arrecadado pelo Moloch dos Estados e da União.

Vemos a liberdade dos maus e a coação dos bons; o domínio dos aventureiros, a geral desmoralização administrativa, o império da negociata e da gorjeta.

Vemos a Nação enfraquecer-se, definhar sob as aparências de um progresso brilhante.

Douramos com a purpurina de um cabotinismo inconsciente a lata que pretendemos fazer passar por ouro maciço. A par de tudo, a desorientação política, a ineficiência e incapacidade dos partidos na pretendida prática da democracia.

E todo este quadro me convence de que a Doutrina que prego é verdadeira e só por ela poderemos construir um grande Brasil onde um Povo saudável e produtivo realize a perfeita liberdade do Homem.