Hoje, recordando mais um aniversário de nascimento de Plínio Salgado, que veio ao mundo há exatos 128 anos, aos 22 de janeiro de 1895, na cidade de São Bento do Sapucaí, SP, nas faldas da Serra da Mantiqueira, postamos este breve texto de Victor Emanuel Vilela Barbuy, que se constitui num esboço de verbete de um inédito e incompleto dicionário literário de sua autoria.
PLÍNIO SALGADO
Nasceu na tradicional cidade paulista de São Bento do Sapucaí, nas faldas da Mantiqueira, em 22 de janeiro de 1895. Havendo iniciado suas atividades jornalísticas e políticas em sua terra natal, radicou-se em 1919 na Capital Paulista, onde se dedicou ao jornalismo com grande sucesso e participou ativamente do Movimento Modernista, ao qual aderiu pouco antes da Semana de Arte Moderna de 1922, da qual tomou parte. Em 1926, publicou o romance O estrangeiro, que teve grande sucesso de público e de crítica e tornou-o um escritor nacionalmente consagrado, sendo, ademais, o primeiro romance social em prosa modernista e primeiro grande romance do Modernismo, assim como a maior realização romanesca da década de 1920 e o mais importante romance e poema em prosa de todo o Modernismo Brasileiro. No mesmo ano, proferiu a conferência A anta e o curupira, de que nasceu o chamado Movimento Verde-Amarelo, corrente sadiamente nacionalista do Modernismo. Mais tarde, criou o Movimento da Anta, também conhecido como Escola da Anta e Revolução da Anta, que se constituiu numa corrente do Verde-Amarelismo que pregava a urgente necessidade de um nacionalismo interior e intuitivo, e não meramente exterior e pictórico, e recebeu tal nome por ser a anta ou o tapir um animal totêmico da estirpe tupi e uma abridora por excelência de caminhos. Deputado federal entre os anos de 1928 e 1930, fundou em 1932, em São Paulo, a Sociedade de Estudos Políticos (SEP), entidade que reuniu dezenas de intelectuais preocupados em dar um novo rumo ao Brasil, reconduzindo-o às bases morais de sua formação. No mesmo ano, lançou, em 7 de outubro, o chamado Manifesto de Outubro, documento inaugural do Integralismo e da Ação Integralista Brasileira (AIB). Reunindo desde homens simples dos sertões até muitos dos mais notáveis intelectuais do Brasil, a AIB foi o primeiro autêntico movimento de “massas” do País e formou o mais brilhante grupo da Inteligência Brasileira. Depois da decretação do Estado Novo, a AIB foi colocada na ilegalidade e seu fundador e Chefe Nacional, Plínio Salgado, enviado ao exílio em Portugal, onde permaneceu entre os anos de 1939 e 1946 e exerceu intensa atividade cultural e religiosa, acabando por se tornar uma espécie de embaixador cultural do Brasil em terras portuguesas. Em 1942, publicou sua obra-prima, a monumental Vida de Jesus, que, como escreveu o Padre Leonel Franca, é “a joia de uma literatura”. De volta ao Brasil, tornou-se presidente do Partido de Representação Popular (PRP), agremiação política que defendia os princípios essencialmente cristãos, tradicionalistas, patrióticos e nacionalistas do Integralismo, bem sintetizados na tríade “Deus, Pátria e Família”. Pelo PRP foi candidato à Presidência da República, em 1955, obtendo quase um milhão de votos, e por duas vezes se elegeu deputado federal. Em 1965, com o fechamento de todos os partidos até então existentes e a criação de duas novas agremiações políticas, a ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), aderiu à primeira, pela qual se elegeu deputado federal por mais dois mandatos, até se aposentar da vida política, em 1974. Faleceu um ano mais tarde, em São Paulo, na passagem do dia 7 para o dia 8 de dezembro. Casou-se duas vezes, a primeira em 1918, com Maria Amélia Pereira, natural de São Bento do Sapucaí, e a segunda em 1936, com D. Carmela Patti, natural da cidade de Taquaritinga, também no interior de São Paulo. A primeira esposa faleceu em 1919, dias depois de dar à luz sua única filha, que, registrada e batizada como Maria Virgínia, foi desde cedo chamada de Maria Amélia em homenagem à mãe e acabou por usar sempre este nome, enquanto a segunda esposa, com quem não teve filhos, faleceu no ano de 1989. Como romancista, Plínio Salgado publicou, além de O estrangeiro (1926), as obras O esperado (1931), O cavaleiro de Itararé (1933), A voz do Oeste (1934) e Trepandé (1972), sendo postumamente publicado seu romance incompleto O dono do mundo (1999), que marca sua única incursão pelo campo da ficção científica. Os aludidos romances O estrangeiro, O esperado e O cavaleiro de Itararé formam a trilogia Crônicas da vida brasileira, uma das mais importantes de nossa Literatura, e se constituem nos maiores poemas em prosa do Modernismo Brasileiro, ao lado de seu romance A voz do Oeste, que é, com A Muralha, de Dinah Silveira de Queiroz, um dos dois grandes romances do bandeirantismo paulista. Da obra poética de Plínio Salgado, podemos destacar o Poema da Fortaleza de Santa Cruz (1939), o inédito Poema do Exílio (1943) e os Poemas do século tenebroso (1961). Havendo retornado ao Catolicismo em 1918, depois de um breve período de descrença, Plínio Salgado se tornou um dos maiores pensadores cristãos do Brasil e de todo o Mundo Lusíada, publicando obras como A aliança do sim e do não (1943), Primeiro, Cristo! (1946), O Rei dos Reis (1946), Mensagens ao Mundo Lusíada (1946), A Tua Cruz, Senhor (1946), A imagem daquela noite (1947) e São Judas Tadeu e São Simão Cananita (1950), além, é claro, da magistral Vida de Jesus (1942), já aqui mencionada. Dentre suas obras político-doutrinárias, por sua vez, podemos mencionar, por exemplo, Psicologia da Revolução (1933), A Quarta Humanidade (1934), O conceito cristão da Democracia (1946), Direitos e deveres do Homem (1949), O ritmo da História (1949), Espírito da burguesia (1951) e Reconstrução do Homem (1957). No campo dos livros didáticos, escreveu um Compêndio de Instrução Moral e Cívica (1965) e uma História do Brasil (1970). Apesar do nefasto preconceito ideológico que contra ele tem se abatido, a grandeza da obra literária, religiosa e política de Plínio Salgado tem sido reconhecida por críticos honestos e servido de inspiração a um crescente número de brasileiros.
Victor Emanuel Vilela Barbuy