Como todos bem sabem, muito têm crescido, nos últimos anos, em nosso País, as hordas dos defensores do liberalismo, sobretudo em sua face econômica. Muitos destes fanáticos adeptos da falsa religião liberal, em geral sectários da chamada “Escola Austríaca” de Economia e cultuadores de pensadores anticristãos como Ludwig von Mises e Ayn Rand, têm atacado duramente o Integralismo, alguns deles havendo acusado o escritor, historiador, folclorista e doutrinador integralista Gustavo Barroso de ser nazista e antissemita, compreendendo o antissemitismo como sendo a aversão racial ao judeu. Esta última acusação já foi feita, com efeito, mesmo pelo principal ídolo “brasileiro” destas hostes liberais, o jornalista e astrólogo Olavo de Carvalho [1], que, aliás, não é apenas um crítico ferrenho do Integralismo, Movimento cuja Doutrina e História demonstra desconhecer quase por completo, como também da própria Doutrina Social da Igreja, principal fonte de inspiração deste, a que injustamente acusa de favorecer o socialismo [2].
Em verdade, porém, Gustavo Barroso jamais foi um nacional-socialista, do mesmo modo que jamais foi um antissemita no sentido acima aludido, havendo, aliás, condenado veementemente certos aspectos fundamentais da doutrina da suástica, em particular a visão desta a respeito da denominada questão racial. Com efeito, na obra Judaísmo, maçonaria e comunismo, de 1937, o autor de Espírito do século XX afirmou que os integralistas “não somos racistas”, combatendo o que chamou o “‘racismo judaico’ em nome da ausência de racismo brasileiro”, do mesmo modo que assinalou que havia “graves defeitos no racismo germânico” [3]. Segundo ele, pois, a luta contra os judeus não podia provir, no Brasil, “dum sentimento racista, porque o brasileiro é eminentemente contrário a qualquer racismo”, mas sim do “sentido exatamente antirracista” do brasileiro [4].
Destarte, não podemos dizer, de forma alguma, que as críticas de Barroso aos judeus foram inspiradas por preconceito racial. Donde concordarmos com Sérgio de Vasconcellos [5] e com o liberal e, por conseguinte, insuspeito Francisco Martins de Souza [6], quando estes sustentam que o autor de História secreta do Brasil jamais defendeu um antijudaísmo de cunho racial, mas sim de caráter político e econômico, como o próprio historiador e doutrinador integralista ressaltou, aliás, em página da obra Brasil, colônia de banqueiros [7], de 1934.
Em resposta a Armando Sales de Oliveira, que, em sua opinião, quisera se referir ao Integralismo ao falar, em um de seus discursos, em “regime totalitário”, salientou Gustavo Barroso, na obra A Sinagoga Paulista, de 1937, que a concepção de Estado Integralista de Plínio Salgado nada tem de totalitária, sendo completamente “original”, consultando “a realidade brasileira” e “formando uma democracia orgânica e não um Estado absorvente”. Em seguida, havendo observado que a concepção de Estado do Integralismo “é profundamente tomista, profundamente cristã” [8], citou uma passagem da Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino, em que este prelecionou que “a diversidade das cidades (Estados) provém da diversidade dos fins ou das maneiras diferentes de atingir o mesmo fim” e que “os homens constituem vidas comuns diversas e, por conseguinte, cidades diversas” (“diversas respublicas”) [9]. Isto posto, assim escreveu o autor de O Quarto Império:
“Nazismo, Fascismo, Integralismo são cidades muito diferentes, diversas republicas. Todos querem, organizando os respectivos nacionalismos, ‘vencer a anarquia’, como diz o Sr. Armando, mas cada um tem sua doutrina própria e obedece a realidades humanas diferentes, que só os ignorantes ou os de má-fé negam ou escondem [8]“.
Em O Integralismo e o Mundo, obra de 1936 na qual tratou dos principais movimentos nacionalistas então existentes em todo o Orbe Terrestre, asseverou Barroso que, dentre todos esses movimentos, “o Integralismo Brasileiro é o que contém maior dose de espiritualidade e um corpo de doutrina mais perfeito”, afirmando “mais fortemente o primado do espírito” do que o fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão e “mais alto” se elevando, “doutrinariamente, para as verdades Eternas” [11]. Pouco adiante, havendo ressaltado que “diferenças profundas” separam o Integralismo do fascismo e do nacional-socialismo, aduziu o autor de O Integralismo em marcha que “o Estado nazista” é pagão e baseado “na pureza da raça ariana, no exclusivismo racial”, ao passo que “o Estado Integralista”, alicerçado “na tradição da unidade da pátria e do espírito de brasilidade”, é “profundamente cristão” e “combate os racismos, os exclusivismos raciais” [12].
Poderíamos transcrever aqui diversas outras citações de Gustavo Barroso, que, assim como as precedentes, demonstram que jamais foi ele um adepto do nacional-socialismo. Reputamos, contudo, já terem sido suficientes aquelas por nós apresentadas para demonstrar cabalmente que só um completo ignorante ou alguém movido pela mais absoluta má-fé pode afirmar que Barroso foi um soldado da doutrina da suástica. Assim, damos por encerrado o presente artigo.
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira.
São Paulo, 20 de março de 2014.
Notas:
[1] Tal acusação foi feita pelo autor de Astrologia e Religião na aula de seu curso de Filosofia de 31 de agosto de 2013.
[2] Capitalismo e Cristianismo. Disponível em: http://www.olavodecarvalho.org/textos/capitalismoecristianismo.htm. Acesso em 27 de março de 2014.
[3] Judaísmo, maçonaria e comunismo, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1937, p. 128.
[4] Idem, p. 10.
[5] Gustavo Barroso, racista? Disponível em: https://www.integralismo.org.br/?cont=781&ox=30. Acesso em 16 de março de 2014.
[6] Raízes teóricas do corporativismo brasileiro, Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1999, p. 49.
[7] Brasil, colônia de banqueiros, 2ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1934, p. 71.
[8] A Sinagoga Paulista, 3ª edição, Rio de Janeiro, Empresa Editora ABC Limitada, 1937, p. 176.
[9] Apud Gustavo BARROSO, A Sinagoga Paulista, 3ª edição, Rio de Janeiro, Empresa Editora ABC Limitada, 1937, p. 176.
[10] A Sinagoga Paulista, 3ª edição, Rio de Janeiro, Empresa Editora ABC Limitada, 1937, p. 176.
[11] O Integralismo e o Mundo, 1ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1936, pp. 15-16.
[12] Idem, p. 17.