
Desde a aurora do liberalismo, mais precisamente desde sua derradeira manifestação política e transformação em fato social — através da Revolução Francesa —, perdemos a consciência da verdadeira proporção do homem enquanto ser social. Essa ideia, através deste evento desastroso, inaugurou uma nova categoria de homem, o Indivíduo. Este ser artificial foi (e ainda é) aclamado como o homem liberto, senhor de si mesmo, livre da opressora obrigação dos grupos e das hierarquias, dono de seu próprio destino. Nada mais falso.
O fato ignorado (ou desprezado) pelos ideólogos individualistas é que o homem nasce em um grupo — a família — e, naturalmente, integra diversos outros grupos com os quais possui interesses, valores e atividades em comum: a religião, a profissão, a prática cultural, intelectual, artística etc. Os grupos conferem real poder ao homem, poder de interferir, organizar e conduzir os fatos que são construídos coletivamente por seus pares. Os grupos naturais são garantia de independência e autonomia, em outras palavras, bastiões de liberdade.
O que a concepção individualista do homem realizou não foi sua libertação, mas, paradoxalmente à ideia de liberdade e autonomia, através do seu desarraigamento desses grupos, condicionou o homem ao poder de um único grupo organizado: o Estado. Ironicamente, a bandeira da liberdade e do individualismo criou a dependência e o coletivismo. Uma massa amorfa de “homens livres”, sem relações profundas entre si — portanto, sem capacidade de união e defesa mútua — e submissos a um poder centralizado, representam a forma mais perfeita de domínio. Nenhum rei absolutista ou imperador do passado sonhou com tamanha capacidade e eficiência de domínio como a que se vê estruturada hoje nos Estados das democracias liberais ocidentais.
Este fato é evidente. Está aí para quem observar com atenção e relacionar os fenômenos. Todos os anos vemos imposições legais que afrontam a moral e os costumes guardados pelos resquícios de grupos naturais ainda organizados na sociedade, especialmente a família e a religião. Não podemos deixar de notar que canetadas de burocratas estatais, a serviço de organismos ideológicos nacionais e internacionais, criam leis e dispositivos que contradizem valores básicos e inegociáveis que compõem a estrutura familiar, como a ridícula criminalização de críticas a perversões sexuais. Observamos também o avanço da cultura de morte; do esfacelamento jurídico da instituição matrimonial e familiar; a deterioração das relações trabalhistas, com a precarização do trabalho; a exclusão histérica da religião e de seus preceitos dos espaços públicos, midiáticos e culturais, etc. Tudo isso ocorre, sem sombra de dúvidas, porque a capacidade de mobilização, organização, regulamentação e autodeterminação desses grupos foi esfacelada no momento em que o homem foi pulverizado nos cacos do indivíduo.
Os detratores do Integralismo ainda hoje têm o péssimo hábito de, ridiculamente, nos acusar de inimigos da liberdade, de sermos avessos à autodeterminação dos homens, e o fazem enquanto levantam as mais bárbaras bandeiras. O primeiro dos detratores, o liberal, prega a idolatria à “liberdade”, liberdade esta que faz o homem fraco, pequeno e fragmentado, livre apenas de sua própria natureza, colocando-o à mercê do poder esmagador do Estado. Este, o Estado, é ídolo do segundo detrator, o socialista, que, vendo a fragilidade do indivíduo, exposto à exploração dos poucos que se fazem poderosos às custas de muitos, exige a submissão de todos à proteção e cuidados de um só. O Integralismo rejeita as duas concepções. Para nós, a liberdade não provém do individualismo fragmentário e muito menos do coletivismo absorvente, este último, consequência inevitável do primeiro. O Integralismo afirma que a liberdade repousa naquela estrutura ignorada pelos dois projetos de sociedade mencionados: os Grupos Naturais.
O Integralismo, através de sua Doutrina, se coloca como linha de defesa do Homem — do verdadeiro, não do Indivíduo; este não existe. Nossa visão é expressão de nossa Doutrina. Sendo assim, não podemos defender a predominância de certas partes sobre outras e muito menos esperar que desse desequilíbrio se produza um bem, como a liberdade. Nosso método afirma a correlação dos fenômenos, em uma visão integral, totalista. Consideramos o perfeito e integrado equilíbrio entre o homem e seus grupos, onde os grupos devem ser potencializadores de suas vocações e garantidores de sua autonomia e liberdade. Ao mesmo tempo, consideramos os grupos como referência e comunicador das realidades humanas para a esfera mais alta, o Estado, que deve agir em conformidade com as aspirações e necessidades expressadas pelos grupos, buscando o bem comum, a harmonia e a justiça social.
A visão Integralista, portanto, não é individualista nem coletivista. É grupalista. Sem grupos o homem está só, exposto e enfraquecido. Um homem neste estado é inevitavelmente massificado. Lutemos pela reedificação e fortalecimento dos grupos naturais, lutemos pela conscientização do homem para que veja onde repousa sua liberdade, lutemos contra os inimigos da ordem natural e contra seus projetos perversos!
Pelo Bem do Brasil: Anauê!
Allan de Assis
Presidente do Núcleo da Frente Integralista Brasileira em São Paulo.
Texto lúcido, claro e que expõe de forma rápida e direta o estado de coisas que vivemos no século XXI.