“Brasileiro”, antes de ser filho desta terra, foi o mercador do mais cobiçado produto dos primeiros tempos, exatamente o pau de tinta que deu nome ao país.
Apesar disso, ou por isso mesmo, raramente ou nunca vemos, em pessoa, o pau-brasil. Extinguiram-se das florestas pomposas do litoral, sem nenhuma consideração pelo Futuro, que era o dono da terra.
Encontraram um tesouro sem defesa. Não havia olhos para espreitar a cupidez dos que se lançaram, em fulminante rapina, sobre a riqueza fácil e abundante. Pilharam as matas, sofregamente, como quem quer a fortuna já e já, de qualquer maneira, e tem pressa, para não ser pego na apropriação ilícita…
Esta é a memória sinistra dos traficantes que enriqueceram à custa do nosso empobrecimento, cujo principal deles, Fernando de Noronha, só nos legou o desgosto do seu nome em nossa principal ilha oceânica.
Houve “ordenações” para que poupassem as riquezas florestais, menos embora do que as dirigidas às colônias espanholas. Mas o cuidado, aqui, foi diminuto e exclusivamente legal. Depois das concessões do pau-brasil, continuou a devastação incalculável e impiedosa, com um prejuízo para o país que seria astronômico se pudéssemos reduzir a cifras.
O triste, entretanto, é que a situação perdura. E que, cada dia, o nosso patrimônio territorial diminua de valor. Em vez de utilizar os frutos, destruímos também o que nos favorecia novos frutos: a árvore. Não nos contentamos com o lucro, gastamos a perdulária e inconscientemente o capital. Decresce a nossa riqueza. Rareia até a alimentação gratuita que no mato tinham as nossas míseras populações rurais. O terreno, sem árvores que lhe garantam a umidade, húmus, sombra, se torna agreste para as pequenas culturas que matam a fome da nossa pobre gente do campo. E foge a caça, pela extinção do sombreado e dos esconderijos do mato.
No Brasil, o homem ainda não aprendeu a dar valor à natureza. Tivemos duas lições nefastas do desprezo às árvores: a dos feitores coloniais que saquearam, e a do índio, com a sua displicente e fatal queimada. O caboclo é dendroclasta por índole, como disse Euclides, e aniquila, sumariamente, num instante, o que a natureza levou décadas e séculos construindo.
A nossa gente tem muito respeito pelo que é alheio, mas não aprendeu ainda que a natureza é de todos, é do Futuro, é da Pátria, e é um crime atentar contra a sua integridade. Vamos ensinar isto ao povo brasileiro.
Os povos adaptados à sua terra, cuidam de sua paisagem (o seu país) como da sua casa. Nós nem sequer pensamos no valor futuro das terras, quanto mais para cuidarmos da sorte das gerações vindouras. Parece que ainda somos degredados, colonos gananciosos, e, em vez de conservar, valorizando, nossa riqueza natural, desenvolvemos, ao contrário, a capacidade humana, incalculável, de destruição.
Disse Alberto Torres que a conservação das fontes da vida no Brasil é um problema de adaptação humana ao habitat. Não somos mais uma fazenda ultramarina, onde é preciso sugar tudo, como quem espreme e deixa o bagaço… Havemos de tornar o caboclo dendrófilo por educação, como quer o Sr. Artur Neiva. Do contrário, toda a zona habitada se tornará estéril, e o deserto irá invadindo até as brenhas amazônicas.
A queima e derruba alastram os vales nus e os cocurutos tristes de montanhas sem vegetação, deixam a paisagem desoladora dos trapos vegetais que cobrem as margens das nossas vias de penetração, que ostentavam outrora a roupagem verde e luxuriosa das matas.
Os climas vão se abrasando. Minguam-se as reservas d’água. Decresce o volume dos rios. O das Velhas, por exemplo, até 1885 era navegável, e por ele desceu para o São Francisco o vapor “Saldanha Marinho”, que não mais pode voltar à sua primitiva estrada líquida de Gualcuí a Sabará. Como o desta informação de Calógeras, inúmeros outros casos.
Estatística recente informa que, nos últimos anos, os mananciais que fornecem água ao Rio, vêm decrescendo progressiva e assustadoramente. Destruíram as matas que protegiam as nascentes. E se a “cidade maravilhosa” pode se orgulhar das matas da Tijuca, é que, depois de destruídas, foram replantadas pelo Major Acher e pelo primitivo Taunay. As nossas urbes no trópico arrumaram jardinzinhos rasteiros como os franceses… Nas ruas, de árvores poucas e mirradas, a caminhada nos dias de canícula é insuportável, especialmente para os que não podem usar ternos levíssimos e distrair o calor no ócio das praias, sob as largas umbelas, mas têm necessidade de mexer-se na sueira estival, 40 graus à sombra debaixo de grossas casimiras de inverno.
É uma campanha nacional, a do reflorestamento, que devemos levar avante, com a eficiência devida, em nossos 3.000 núcleos.
A uma cronista sutil, o Integralismo apareceu reflorestando a alma brasileira, dando-lhe o verde da mocidade e da vida.
O Integralismo é o primeiro movimento brasileiro que tem consciência do Futuro. Que não “planta a couve para o almoço de amanhã, mas o carvalho para o abrigo do futuro”. Nós poderemos criar o amor à natureza, conservar e enriquecer as nossas reservas de vida e energia.
Comemoremos as grandes datas plantando árvores, parques, bosques. Plantemos sempre, substituindo as árvores derrubadas e compondo os espaços vazios. Criemos a sombra e a fertilidade.
Antes mesmo de atingir o poder, poderemos fazer coisas formidáveis. Reflorestando as almas e os campos.
Rômulo Almeida
Publicado originalmente em Ação, 25 de novembro de 1936.