Se o homem é o que a criança foi — é preciso na criança preparar o homem. O sentido dessa preparação está subordinado, não a valores relativos e transitórios, mas a um ideal absoluto. Podem e devem variar as formas de aquisição intelectual. A psicopedagogia é a ciência da variedade metodológica, em função da mobilidade do processo psíquico. A inteligência requer adaptação psíquica ao tempo. Só assim podemos admitir que haja educação para uma civilização em mudança. Outro significado que se pretenda emprestar a esse conceito — como o de que é necessário substituir os antigos valores, absolutos, pelos relativos e modernos — é tendencioso e gerador de uma agitação malsã. É compreensível o sentido de mudança de civilização, se se trata da transformação, da evolução dos valores relativos, os únicos que, com efeito, podem variar.

Muito bem sei que com isto não concordam aqueles que em certo setor do pedagogismo norte-americano abriram a sua trincheira irredutível. Mas, a eles não é que me dirijo.

Entendo-me agora com esses abnegados espíritos, que tomaram sobre si o encargo nobilíssimo de instruir e formar os plinianos e cuja pedagogia lhes é sugerida pela compreensão do Ideal e temperada pelas ardências do coração. Para esses têm sentido as minhas palavras.

O liberalismo jamais cuidou da formação da criança. Finge dar-lhe uma educação que apregoa se destinar à democracia, mas o que lhe dá é uma educação perigosa, pois sendo ela de finalidade neutra, acarreta resultados destrutivos.

Padre Leopoldo Aires

Ver na criança o plasmador do futuro, nesse sentido, educá-la; objetivar nessa educação, não só o seu aspecto somático, o aspecto cívico, o aspecto intelectual, mas antes de tudo o seu aspecto moral, a isso é que aspira o Integralismo, cujo nome justifica a sua posição diante do conjunto desses problemas. A formação pliniana colima esse fim: educar a criança absolutamente integrada na plenitude dos ideais do Sigma, para que seja um brasileiro consciente de suas energias vitais, energias que ele desde muito cedo alimentou e orientou para o sentido de construir uma Pátria consciente, também, dos seus destinos magníficos. Essa formação não implica — como pensam adversários dela — uma adaptação forçada a ideais preestabelecidos, que produziria assim uma obediência toda passiva. Em verdade, não há educação sem ideal. Em educação, pretender não ter nenhum, já é ter um, e, dentre todos, esse é dos mais funestos. O verdadeiro ideal educativo é o que se propõe educar o homem todo. E o homem todo é o conjunto do homem físico, do homem intelectual, do homem cívico e do homem espiritual.

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A cada uma destas faces o Integralismo dá sua importância merecida. Ao homem espiritual ensina os deveres para com Deus, para consigo e para com o próximo; ao homem cívico os deveres com a Pátria; ao homem intelectual dá-lhe escolas e cultura; ao homem físico oferece-lhe meios adequados ao cuidado da saúde, à conservação da robustez, à higienização, à valorização nacional da força muscular; afinal o Integralismo propicia ao homem integral tudo aquilo com que ele possa eficientemente contribuir para a glória de Deus, para a honra da Pátria e parava necessidade dos seus filhos.

De tal ensino e de tal prática jamais poderá sair um escravo. A educação integral consegue, positivamente, o contrário. Liberta o homem, pela disciplina espiritual e física, da tirania dos instintos. O apostolado inicial e fundamental da educação integralista é a reforma do indivíduo, porque sem essa reforma é inútil, é contraproducente qualquer ensaio de reforma social. Todas essas gerações que a seu tempo se emanciparam do que chamam preconceitos de educação, todas amoleceram as fibras da varonilidade e depressa envelheceram, na escravidão vergonhosa aos instintos deseducados. A educação integral dá ao homem aquilo de que ele imprescinde para o êxito na vida.

E quando digo êxito na vida não quero que se entenda a expressão, no sentido que se foi buscar à filosofia pragmática do cinema norte-americano, sentido de bem-estar, dinheiro, prazeres e predomínio da força física.

Êxito na vida só tem aquele que se educou para os revezes e para as vicissitudes. Triunfa na vida aquele que sabe arrastar uma desilusão. E é um derrotado aquele que sonha sempre melhores quinhões. O primeiro consolida a paz no coração, pela serenidade forte. O segundo acalenta a angústia no espírito, pela ambição insofrida. A não extensão é o número dos ineptos à resistência da adversidade, dos que sucumbem à míngua de energias morais — vemo-lo, todos os dias, na publicidade de imprensa.

A escola de formação pliniana é um foco, em que se caldeiam as energias do brasileiro futuro que nele adquire a inquebrantabilidade necessária para o legítimo êxito na vida. Essa é uma escola de orientação e de disciplina. Orientar e disciplinar a liberdade, eis a substância da formação pliniana.

Eu vejo nesses pequeninos soldados do Sigma a grande Legião invencível de amanhã. Eles serão os dominadores e os triunfadores, não com as armas de bruteza, porque já não precisa dela quem argamassou com sacrifícios o seu prestígio moral, mas com as da individualidade que vem da educação, de uma educação íntegra, perfeita.

Padre Leopoldo Aires
Revista “Anauê” n° 17, julho de 1937.