Quem conhece a Ação Integralista Brasileira, observa seus métodos de trabalho, sua organização e o efeito místico que exerce sobre as almas dos que nela participam, recorda-se instintivamente da Inconfidência Mineira de 1789.
Como o Integralismo, a Inconfidência foi uma conjuração de vontades no sentido de salvar o Brasil das espoliações do regime colonial, dando-lhe independência e liberdade.
Por esses dois ideais, juntaram-se elementos de todas as classes sociais, irmanados por um sentimento unânime de solidariedade e de sacrifício pelo bem comum.

Augusto de Lima Júnior
Enquanto o comunismo, preconizando a luta entre as classes, promove a subversão social, pelo sangue e pela destruição, semeando o ódio entre irmãos, para fundar a mais cruel das opressões, o Integralismo vem solidarizando os homens desde o humilde operário ao intelectual e ao homem de negócios, exigindo de todos uma abdicação de interesses em proveito da fraternidade e do bem comum, somente admitindo a nobreza na virtude e hierarquia no saber e na capacidade de realização.
Assim foi a Inconfidência.
Ela congregou magistrados, advogados, negociantes, operários agrícolas e urbanos, agricultores, militares, cientistas e rudes, brancos, mulatos e pretos, ricos e pobres, no mesmo anseio nobre de construção de uma grande Pátria.
Desde logo a primeira ideia é a libertação dos escravos.
Não compreendiam uma Pátria constituída de senhores e escravos, aviltados uns e outros por um regime que abate os caracteres e entorpece o progresso humano.
Restrições da liberdade seriam as necessárias, e para todos; mas isso denomina-se “disciplina” e foi desde logo um postulado da conjuração de 1789.
O aproveitamento das riquezas naturais, a criação das indústrias, para que o Brasil vivesse liberto da servidão ao estrangeiro, a fundação de uma Universidade para que a cultura fosse fartamente disseminada, tudo quanto o Integralismo prega e vai realizar no Brasil, está traçado nos programas da Inconfidência.
A hierarquia ditada pelo saber e pela capacidade, tão intrínseca à ação integralista, culminou na trama inconfidente.
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, humilde alferes de Dragões, chefia um levante do qual participam homens como Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Alvares Maciel, Luís Vieira e o próprio tenente-coronel comandante do regimento de cavalaria a que pertencia o obscuro alferes.
É esse Tiradentes que recebe as investiduras de mais perigo, pregando a redenção da Pátria, e, por fim, ele único sobe ao patíbulo, consagrado, por sentença, chefe da Inconfidência de Minas Gerais.

Plínio Salgado e Tiradentes
Nessa Inconfidência, como no Integralismo, não havia lugar para os materialistas interesseiros, mercadores de tudo, homens-ventres insaciáveis.
Joaquim Silvério dos Reis conspira também.
Devedor em mais de cem contos de réis no fisco, pergunta um dia ao cônego Luís Vieira, se, vencedora a revolução, seriam perdoadas as dívidas do tesouro público.
Ante a resposta negativa, vai denunciar os planos ao Visconde de Barbacena, para obter perdão, prêmios e vantagens.
Assim também procedem hoje os miseráveis, acusadores que pressentem que na vitória do Integralismo não cabem os “arranha-céus” improvisados, as fortunas instantâneas, nem os peculatários de alto ou baixo coturno.
A Inconfidência Mineira é, pois, o mesmo anseio brasileiro, que interrompido em 1789 retomou seu surto regenerador com a Ação Integralista Brasileira.
Coincidência notável!
Voltam agora os degredados da África, consagrados pela Pátria que sonharam fundar e que encontram ainda necessitada de seu salvamento.
Quem sabe se isso não é um claro desígnio de Deus, apontando ao Brasil qual o caminho a seguir nesta hora de vergonhas e ameaçadora de novas tragédias?
Haverá um brasileiro que ignore a história da Inconfidência?
Conhecendo-a e amando o Brasil, não sentirá que é um dever de consciência e um postulado de dignidade cívica vestir a camisa verde que significa a Inconfidência Integralista?
Em 1789 o Brasil era uma colônia portuguesa. Hoje é colônia do capitalismo do mundo inteiro.
Em 1789 havia pretos escravos e senhores brancos.
Hoje somos todos, brancos, pardos e pretos, escravos de meia dúzia de senhores mais bárbaros que os de outrora.
Inconfidência e Integralismo são uma e única coisa.
Augusto de Lima Júnior
Historiador mineiro, foi um dos principais pesquisadores da Inconfidência Mineira e o mais importante divulgador e protetor do legado inconfidente e da história de Ouro Preto. Entre vários outros trabalhos, publicou A Capitania de Minas Gerais: suas origens e formação (1940), Pequena história da Inconfidência de Minas Gerais (1955), Vila Rica de Ouro Preto: síntese histórica e descritiva (1957), Alferes Joaquim da Silva Xavier, Tiradentes (1960) e História da Inconfidência em Minas Gerais (1968). De 1945 até a dissolução do Partido de Representação Popular, foi o principal organizador do movimento integralista em Minas Gerais.
*Artigo originalmente publicado em “A Offensiva”, 2 de abril de 1937.