Sou forçado, continuamente, a defender o Integralismo contra as infames calúnias com que tentam feri-lo de todos os lados.
Uns dizem que temos ligações com governos estrangeiros, que somos subvencionados pelo hitlerismo, pelo fascismo. Outros, ao contrário, afirmam que pretendemos perseguir alemães e italianos, fechando-lhes as escolas, proibindo o ensino de suas línguas originárias no Brasil. Enquanto alguns nos acusam de defendermos os interesses da Alemanha ou da Itália, outros nos apontam como inimigos daqueles países.
Aos operários, afirmam que estamos vendidos ao capitalismo, ao imperialismo, para escravizá-los. Aos industriais e comerciantes, dizem que não pretendemos respeitar o direito de propriedade. Enquanto se publicam boletins que percorrem fábricas e usinas, dizendo que pretendemos vender o país aos capitais estrangeiros, correm aos escritórios das companhias, das organizações do capital alienígena, segredando aos ouvidos dos que para aqui trazem recursos financeiros para colaborarem no progresso do país, que nós pretendemos guerrear o capital estrangeiro.
Somos acusados se não votamos e somos acusados se votamos. Somos acusados e ridicularizados quando estamos ao lado da Ordem: somos, ao mesmo tempo, apontados como inimigos da Ordem. No campo das atividades espirituais, combatem-nos perante os católicos, dizendo-lhes que pretendemos persegui-los, e acusam-nos nos meios espíritas ou protestantes, dizendo-lhes que pretendemos impor-lhes o catolicismo.
Junto às Classes Armadas a intriga se exerce da mesma maneira, afirmando-se que desejamos acabar com o Exército. Nos meios cultos, dizem que pretendemos o obscurantismo; nos meios iletrados dizem que somos um movimento de intelectuais, inimigo das classes populares. Acusam-nos porque pretendemos uma “democracia integralista” e não uma ditadura, chamando-nos de ignorantes porque não queremos copiar; mas, ao mesmo tempo, há os que dizem que vivemos copiando e que o de que precisamos é de coisas brasileiras. Mas, se gritamos nós, como o estamos fazendo, há dez anos, que objetivamos uma vida brasileira, uma cultura brasileira, uma política brasileira, então esses mesmos que nos plagiam quando escrevem ou falam apontam-nos como jacobinistas.
Democracia em nossa boca é incoerência; na deles é o mais belo ideal.
Nacionalismo, em nossa boca, é fascismo, é cópia de estrangeiros; na deles é patriotismo.
Brasilidade em nossa boca é jacobinismo; na deles é legítimo sentimento nacional.
Atacados por todos esses infames, por esses homens sem dignidade de pensamento, sem sinceridade nem honestidade, quero, mais uma vez, definir o que pensamos sobre os povos estrangeiros. Definir, não para os nossos acusadores, que são homens de má fé, indignos de qualquer consideração de nossa parte, mas definir para que os estrangeiros que residem no Brasil fiquem, de uma vez para sempre, sabendo o que pensamos a seu respeito.
Não é verdade que somos jacobinistas, inimigos da humanidade. Pelo contrário, o nosso Nacionalismo se afirma num alto sentido de fraternidade humana. Somos uma imensa Nação com oito milhões e meio de quilômetros quadrados, capazes de receber pessoas de todas as procedências, que para aqui queiram vir trabalhar pela grandeza e prosperidade do Brasil. Somos um povo bom, acolhedor, generoso, sem preconceitos de raça ou de origens nacionais. O Integralismo não teria caráter brasileiro, se assim não pensasse e se não agisse de acordo com esse pensamento.
Quanto aos alemães e italianos, não é verdade que desejamos impedir que eles aqui ensinem as suas línguas respectivas. O que queremos é que os descendentes de alemães e de italianos, como de quaisquer outros povos, saibam a língua portuguesa. Achamos até útil que um brasileiro fale duas ou mais línguas. Mesmo os não descendentes de determinado país devem aprender a língua desse país, se existe corrente imigratória que fale esse idioma. Quanto a querermos que os filhos de estrangeiros saibam a língua do nosso país, isso demonstra que não desejamos que fiquem eles numa situação difícil, como bobos e ignorantes, na terra de seu nascimento. Quanto a estudarem a literatura, tomarem conhecimento da cultura da Pátria de seus antepassados, achamos que é um interesse justo e um dever moral. Aquele que não respeita a Pátria de seus pais também não sabe respeitar a sua própria, nem ensinar seus filhos a amar o Brasil. Nestas condições, é uma grande mentira essa que se espalha de que os integralistas querem impedir alemães ou italianos de ensinar a seus filhos a língua de seus pais e dar-lhes conhecimento da cultura transmitida por essa língua.
Quanto ao capital estrangeiro não é verdade que pretendemos persegui-lo. O Integralismo tem um plano geral de organização econômica do Brasil, mas o Integralismo não é um movimento dirigido por loucos, por insensatos! Sabemos respeitar o que é justo.
Essas acusações nos vêm da parte dos mesmos intrigantes que afirmam, em outros arraiais, que recebermos dinheiros de governos estrangeiros. De uma vez por todas, torno a repetir que não recebemos e não receberemos dinheiro de governos, nem estrangeiros e nem nacionais, para o nosso movimento. O Integralismo é sustentado por um milhão de camisas-verdes. Não precisa de adjutórios de governos de espécie alguma.
Quanto à maneira como o Integralismo tratará as Nações estrangeiras, quando for governo, diremos que em igualdade de condições, todos os povos receberão de nós a mesma justiça. Reservamo-nos, porém, a tratar além de justiça, com afeto, aqueles que, nesta hora, não nos criarem dificuldades permitindo que suas colônias cruzem os braços diante da avançada comunista, ou ajudarem os nossos adversários, de qualquer modo, mesmo pelos mais indiretos, ou pela simples, mas tendenciosa expectativa em que muitos estrangeiros se colocam, no instante em que lutamos para salvar, não somente o patrimônio de brasileiros, mas também o daqueles que aqui moram, aqui ganham a vida, aqui têm interesses e famílias e se conservam numa indiferença que nós reputamos criminosa e da qual um dia pediremos contas.
Plínio Salgado
“A Offensiva”, 17 de novembro de 1936.