Em livro publicado em 1956, Ideologia e Economia, examinamos os conteúdos ideológicos do coletivismo e do individualismo econômicos. Na análise referida procuramos demonstrar que:

a) existia, em termos de ortodoxia e de forma sistemática, um pensamento econômico individualista e outro coletivista;

b) na prática, a aplicação desses sistemas redundou em total fracasso;

c) nos Estados Unidos, Roosevelt, com o “New Deal”, na Rússia, Lênin, com a NEP, recuaram a linha ortodoxa e marcaram para um campo de realismo econômico;

d) esse realismo econômico adotado pelos dois líderes levou em conta um fator básico — a nação considerada em suas condições objetivas (infraestrutura econômica) e subjetiva (momento histórico-social).

Posição de realismo semelhante adotou a China comunista, cuja economia tende para um terreno inteiramente diverso daquele imaginado pelos teóricos da ortodoxia marxista.

A posição do Integralismo, diante de tais problemas, é de suma importância e se explica em termos de atendimento aos impositivos da realidade socioeconômica brasileira e adoção de uma política de desenvolvimento tendente a romper com o estado de subdesenvolvimento econômico em que nos achamos.

Problema dos mais delicados e que ocupa hoje a pauta de nossas preocupações é o nacionalismo.

O Integralismo é basicamente nacionalista. Teremos entretanto de enfrentar, na questão em debate, algo de grave e que se prende a erros ideológicos e mesmo políticos na interpretação do que seja nacionalismo. Se entendermos por nacionalismo econômico o isolamento do Brasil do quadro econômico mundial, o Integralismo não é nacionalista, pois entende que a nação deve viver num estado de intercâmbio permanente com os outros povos. A posição integralista em face do nacionalismo é a de luta para melhorar os termos de tais intercâmbios, e não eliminá-los. Além do mais, a posição nacionalista é para nós uma posição realista face a fatos concretos e indiscutíveis, dentre os quais podemos lembrar:

a) País subdesenvolvido como o nosso, carece de técnica e capitais, frequentemente inexistentes dentro de nossas fronteiras geográficas.

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b) O volume de nossas poupanças não atende, em termos econômicos, aos impositivos de nosso desenvolvimento.

c) A nossa receita cambial origina-se de produtos agrícolas, dos quais mantivemos, por algum tempo, um monopólio fundado nas condições especiais de nosso clima e que, por infelicidade nossa, coincide com as condições da África e de alguns países da Ásia.

Em resumo, teremos que tomar uma posição de realismo nacionalista e não de xenofobismo estreito. Assim, estaremos usando o nacionalismo como arma para o nosso desenvolvimento e não como empecilho.

O ideal de isolamento e autossuficiência já foi atingido por todas as tribos indígenas, e não há dúvida de que existe uma incompatibilidade marcante entre o isolamento e o progresso.

Numa época em que a África (nosso concorrente natural) e a própria China comunista disputam os capitais disponíveis, a posição brasileira parece-nos de uma inconsequência histórica, se enveredar pelo caminho isolacionista.

De maneira geral, entendemos o nacionalismo econômico da seguinte forma:

  1. Combate às fórmulas ortodoxas e extremas da economia, quer seja individualista (livre cambista, etc.), quer coletivista (socialismo).
  2. Combate ao marginalismo, isto é, a separação entre a teoria econômica e a realidade nacional.
  3. Inclusão, entre o indivíduo e a coletividade, de um elemento intermediário, a Nação, representada, juridicamente, pelo Estado e limitada, geograficamente, pelo país.
  4. Consideração ao elemento Nação, que limita um espaço para a realidade doutrinária e condiciona, no tempo, o problema econômico.
  5. Conceito de desenvolvimento e riqueza do Brasil, entendido de maneira dinâmica e atentando para o problema da renda nacional e do rendimento e condições de vida do povo.
  6. Defesa do relativismo econômico e negação de apriorismo ideológico de suposta validade universal.
  7. Concepção do desenvolvimento nacional, à base dos princípios do Integralismo e de conformidade com a análise que faremos no próximo artigo [Concepção Integralista do Desenvolvimento Econômico].

Aníbal Teixeira
A Marcha, 6 de novembro de 1958.