A organização político-científica integralista tem no seu programa: “dar ao homem elementos para que ele realize as suas justas aspirações materiais, intelectuais e morais”.
Vinculadas estão as aspirações materiais às duas outras, qualquer que seja a função do homem no Estado Integral, onde ele não é o que quer ser, mas o que pode ser, pois, só assim se tornará útil à coletividade e a si mesmo.
Na execução desta parte do programa o Estado será o seu guia, o seu orientador e para isto é indispensável conhecer a quem vai guiar e orientar.

Rocha Vaz
Na construção deste grandioso edifício social é condição imperativa o conhecimento do material empregado, isto é, do homem nos diversos períodos da evolução biológica.
A ciência da biologia da individualidade humana, com fundamento rigorosamente científico, fornecerá os dados para que bem se possam julgar os valores das capacidades individuais somático-psíquicas.
Perante Deus e as leis todos são iguais, mas, em face da biologia e da psicologia humana individual não há igualdade e sim “indivíduos dissemelhantes e desiguais, isto é, indivíduos ou grupos de indivíduos que diferem uns dos outros pela capacidade física, pela soma de valores musculares, intelectuais e morais, calculáveis, comerciais, utilizáveis na realidade social, isto é, no mercado de valores humanos”.
No Estado Integral este mercado não pode ser invadido pelos que querem somente satisfazer ambições, vaidades mal contidas.
Cada indivíduo deve ocupar o seu justo posto de acordo com a sua capacidade somático-psíquica, e não como se faz na liberal-democracia, em que as aptidões são coladas aos indivíduos com a mesma facilidade com que se colam os números nos postes de iluminação e nas paredes dos edifícios.
O Estado Integral analisa e seleciona os indivíduos segundo as suas qualidades pessoais e constitucionais de temperamento e de tipo mental, de acordo com a biopsicologia humana e social.
O comunismo soviético, neste particular, lançou as suas idéias no Congresso internacional de Moscou, pela boca de Gartev: “qualquer trabalhador deve adaptar-se a qualquer gênero de trabalho”.
Não pode haver maior comunismo biológico, e por ser antinatural já tem lavrada a sua sentença de morte.
Deste modo orientado, o comunismo soviético procura despertar em cada indivíduo energias latentes, utilizando a técnica de “estímulos especiais: salários e prêmios, de acordo com a habilidade de cada um, prêmio para os bons e castigos para os trabalhadores cativos”.
A liberal-democracia seleciona, não os indivíduos, mas as forças que por eles se interessam: partidos políticos, amizades pessoais, servilismo, e, excepcionalmente, aceita a força da competência.
A mentalidade dos dirigentes da nossa liberal-democracia não compreende a importância da resolução deste problema na organização do Estado, e dos três ministros da Nova República só um — Gustavo Capanema — viu, imediatamente, o valor social do estudo da individualidade humana, não tendo poupado esforços para a sua realização.
A cada passo vemos os malefícios da negligência dos governos e das organizações privadas no estudo da capacidade somático-psíquica nas organizações desportivas e escolares, na orientação do trabalho, na escolha dos militares, etc.
A educação física, que tem por fim a harmonia do corpo e do espírito, não tem orientação científica. Somente a Escola de Educação Física Militar segue rumo certeiro; os demais centros não obedecem a indicações especiais para cada indivíduo ou grupo de indivíduos.
A determinação psico-física de cada indivíduo é indispensável para que haja eficiência em sua educação física. A escola italiana de Viola e de Pende, a mais rigorosamente científica, salienta que o nosso motor muscular está em íntima relação com o motor intelectual e com o motor sentimental.
A educação física não compreende somente os músculos, mas também a vontade, o sentimento e a inteligência; a educação é físico-psíquica e o educador deve conhecer a personalidade somático-física de cada um.
Nas organizações escolares não se cuida da exploração e do conhecimento da personalidade biológica e psicológica da criança com o fim de dar-lhe uma educação racional e individual. Na capital da República a organização do ensino primário é ainda primitiva, muito embora se aplauda a orientação dada por um dos adeptos do credo de Moscou.
Nas escolas, só se ocupam com a cultura da inteligência e com a cultura do corpo e, isto mesmo, com grandes falhas e erros; a cultura do caráter é posta à margem, porque os educadores desconhecem as qualidades do caráter que devem ser apreciadas e orientadas para boa utilização da inteligência.
“Caráter e inteligência”, salienta Nicola Pende, “eis os dois motores da nossa vida cotidiana e os verdadeiros fatores do nosso destino”.
Para Ribot, o caráter é o verdadeiro motor, a inteligência é a luz que ilumina o caminho que aquele deve percorrer.
É a escola que dará ao Estado Integral cidadãos robustos, de vontade forte, com espírito de ordem, de disciplina e, por assim ser, ela deve orientar-se em conhecimentos seguros de biologia e de psicologia individual.
Criamos um Ministério do Trabalho para a propaganda do comunismo soviético e para incentivar a luta entre trabalhadores e empregadores. Ali se desconhece a organização científica do trabalho, traçada luminosamente por Vidoni na proteção integral dos trabalhadores.
A organização científica do trabalho não se limita mais, hoje, ao aperfeiçoamento da tecnologia, à racionalização da indústria e do comércio, à utilização do tempo e à compensação do trabalho. Ela é hoje mais complexa e se baseia nas pesquisas biológicas, tecnológicas e sociológicas.
A indústria moderna, diz Stande, não é mais a arte de fabricar; é uma atividade nova que não se orienta somente pela Física, pela Química, pela Tecnologia, mas também pelas Ciências, pela Pedagogia e pela Fisiopatologia.
A orientação científica do trabalho não se satisfaz mais com o Taylorismo, com Fayolismo e com o Scotismo. Antes de mais nada, o primeiro cuidado é o de proteger os trabalhadores: a) exigindo-se uma organização higiênica segundo as normas mais modernas do ambiente do trabalho; b) conhecendo-se as atitudes físico-psíquicas e a capacidade ou deficiência produtiva individual para colocar os trabalhadores em seu justo lugar; c) determinando-se as predisposições de fraqueza constitucional, que favorecem os acidentes e os deveres do trabalho, com o fim de prevenir em tempo com os recursos da medicina e da terapêutica preventiva uns e outros; d) adquirindo-se possibilidades de resolver de modo mais equitativo e racional as questões médico-legais inerentes às doenças e aos acidentes do trabalho, baseando-se no conceito que, para uns e para outros, o médico perito pode hoje possuir preventivamente, mediante o exame constitucional, e o critério para avaliar, igualmente, o peso recíproco para os fins de indenização ou de prêmio das duas grandes categorias de acidentes ou de doenças, pelo seguro dos fatores externos ou acidentais e dos fatores internos ou constitucionais.
A organização científica do trabalho sem o conhecimento do material humano será sempre uma obra mutilada e de escassa eficiência.
O Estado Integral tem necessidade imprescindível de conhecer o fator Homem para que este seja útil a si próprio e à coletividade.
Juvenil Rocha Vaz
Médico, foi um dos principais biotipologistas brasileiros. Autor da Reforma Rocha Vaz no sistema brasileiro de ensino, em 1925. Na Ação Integralista Brasileira, foi membro da Câmara dos 40. Artigo originalmente publicado em “A Offensiva”, 19 de junho de 1937.