Uma revolução como a integralista avança pela conquista pacífica das almas. Primeiro, com a doutrina; segundo, com o exemplo.

Até agora, o que os homens e os partidos têm feito, apresentando plataformas e programas cheios de promessas tentadoras, que nunca foram cumpridas, é mentir. E essas mentiras tantas vezes repetidas são uma verdadeira falta de respeito ao povo brasileiro.

Eis a razão porque o Integralismo não deve fazer promessas. A obra que tem de empreender é árdua, a começar pela própria transformação interior, do povo brasileiro, é uma obra que dará formidáveis resultados, mas que depende de formidáveis sacrifícios; é necessário arriscar-se, correr perigos, dar-se para realizá-la. E o Integralismo não mente nem falta ao respeito ao povo brasileiro, convidando-o para o sacrifício e a dor pela libertação da Pátria.

Mentiras, faltas de respeito, decepções, o ceticismo que lhe inoculou o cosmopolitismo do litoral, tudo isso fez com que o povo brasileiro não acredite em ninguém ou em coisa alguma. Assistem-lhe as justas razões para isso.

O povo brasileiro, esgotado em suas reservas econômicas, sugado pelo empréstimo e pelo imposto; esgotado em suas reservas de confiança; anemiado por sucessivas revoluções estéreis, formadoras de desertos de homens e de ideias; anquilosado por forças secretas, entregue a uma anarquia mental pior que a anarquia material, em nada mais crê e como que nada mais espera. Desde 1857 que traz enrolada ao pescoço, estrangulando-o, a jiboia de um contrato perene com Rothschild. Ninguém nunca lhe revelou sua existência. Antes pelo contrário, sempre procuraram ocultá-la. A sua angústia, disseram-lhe, era a “ominosa e corrupta monarquia”. A república seria a salvação. Fez-se a república. Não foi. Apelou-se para o positivismo e este feneceu, sem fecundar outra coisa a não ser uns almirantes e generais cheios de ideias antediluvianas. Apelou-se para a mocidade com um tal Jardim de Infância. O jardim foi arrasado pela garotada da política e da imprensa. Então uns apelaram para o civilismo, boquiabertos diante da cultura de Rui Barbosa, e outros, para o militarismo, fazendo a “apologia dos não preparados”, a fim de justificar a entrega do poder a um marechal de poucas letras. O marechal foi um desastre. Mal se passaram alguns anos, começou a agir o chamado “espírito revolucionário”. Uma quantidade enorme de oficiais produziu uma quantidade enorme de quarteladas, rebeldias, revoltas e rebeliões, batizadas de revoluções, em casernas, em fortalezas, em guarnições, em couraçados, em cidades e em capitais, até que, a ajuda de governos estaduais conluiados a forças secretas deu a vitória aos que de há muito vinham minando o governo federal e agora estavam de mãos dadas a políticos, seus inimigos da véspera. Não se discutem os atos de bravura, sacrifício e heroísmo de muitos desses homens. Discutível, porém, é a orientação do seu revolucionarismo. Faltava-lhes de tal modo a segurança de uma doutrina que nunca puderam ou souberam explicar o que era o “espírito revolucionário” de que tanto falavam; que uns foram achar no comunismo, outros nos proventos dos bons postos, e outros até na falsificação de estampilhas…

A Revolução de 1930, como a república, o positivismo, o Jardim de Infância, o civilismo, o militarismo e o espírito revolucionário não salvou coisa alguma. Nunca houve no Brasil maior deserto de homens e de ideias.

O povo não pode, portanto, acreditar mais da noite para o dia em homens e ideias. Está cansado de promessas mentirosas, de esperanças vãs e de desenganos dolorosos. Exigir que do pé para a mão acredite no Integralismo e querer que faça rapidamente a revolução integralista seria tolice. Ao Integralismo compete fazer com que o povo brasileiro acredite nele e por ele se sacrifique. E isso somente conseguirá pelo exemplo.

Esse exemplo tem de ser continuado, reiterado, incansável, até que o povo brasileiro olhe e diga: “Agora, posso acreditar na sinceridade desses homens e na grandeza de suas ideias”. Para isso, é necessário que cada camisa verde seja um exemplo de revolução espiritual que prega e que representa. Para obrigar o povo a acreditar no Integralismo, o camisa verde deve ser o melhor estudante de sua aula, o mais disciplinado soldado do seu quartel, o melhor oficial de sua classe, o funcionário mais cumpridor de seus deveres de sua repartição, o operário mais trabalhador e mais digno de sua oficina, o mais expedito e honesto empregado de seu escritório, o melhor cidadão, o melhor homem, o melhor filho, o melhor esposo e pai. Assim, os integralistas serão apontados a dedo: “Aquele é capaz de atos dignos, porque é integralista; aquele é incapaz de atos indignos, porque é integralista”. 

Não se salva, não se constrói uma nação com leis, com estados de sítio ou de guerra; mas com doutrina, com moral, salvando primeiro os homens que constituem a nação.

Não se regenera um povo senão regenerando os indivíduos um a um. A revolução integralista é essa regeneração pela disciplina, pela honestidade, pela bondade, pelo sacrifício e pelo heroísmo.

Que importa se apontem integralistas, haja integralistas que não procedam desta sorte, que antes procedam mal? É porventura isso culpa da doutrina? Não. É culpa deles. A doutrina está certa. Eles, como homens míseros e falíveis, estão errados. Ainda não realizaram a revolução interior. Talvez um dia a façam. Todos são capazes de fazê-la.

Na sua projeção sobre o cenário político e social, a revolução integralista vencerá pacificamente, sem dúvida, respeitando a ordem até o momento de substituí-la por uma ordem nova, por infiltração e saturação. Tomai, por exemplo, um ovo,  e a comparação é adequada, porque o bom humor dos nossos inimigos deu aos integralistas a alcunha de galinhas verdes. Tomai o ovo e olhai-o pelos raios-X. Vereis dentro do invólucro calcário, forrado por uma membrana placentária, clara e gema, que se unem em um ponto dado. É nesse ponto que começa o mistério da formação do pinto, que vai crescendo, fortalecendo-se, emplumando, dentro do ovo, à custa da gema e da clara, até o dia em que, o bico suficientemente forte rompe o envoltório e se precipita na vida exterior.

O Integralismo crescerá desta sorte dentro do Brasil, alimentando-se com as forças do próprio Brasil, até o dia em que romperá o invólucro e cantará seu Anauê! triunfal à luz do sol. Então, terá absorvido a gema e a clara da nação. Somente restarão irredutíveis a casca e o invólucro placentário. Irredutíveis e inúteis. Uma vassourada bastará para atirá-los ao lugar destinado às coisas irredutíveis e inúteis: o lixo.

Gustavo Barroso
“Espírito do Século XX”, 1936. Título original: “O modus da Revolução”.