A Ação Integralista Brasileira visa a reestruturação da sociedade brasileira sobre o alicerce dos princípios imortais do Cristianismo.
Para atingir tal objetivo age como partido político e como sociedade civil.
Como partido político de âmbito nacional, congrega eficiências eleitorais em todo o país num sentido de pacífica, lenta e progressiva unificação das atividades governamentais.
Como sociedade civil, também de âmbito nacional, educa, pela pregação incessante, a razão brasileira, habituando-a a um método de pensar que é a própria reabilitação do senso comum; difunde uma doutrina social-política, que decorre desse mesmo senso comum e da Doutrina Cristã, aplicando-se às condições especiais da Nação Brasileira.
Enquanto prossegue a tarefa de educação da consciência nacional, vai a Ação Integralista Brasileira executando todo um plano de realizações imediatas, tais como: alfabetização geral do povo brasileiro, assistência material às populações desamparadas do interior e das cidades, educação física e esportiva da mocidade, incentivo à cultura artística, à instrução em geral, etc.
Organização de tamanha amplitude e finalidade tão remota envolve ou, quando menos, toca no desdobramento de suas atividades, problemas muito complexos da vida humana, os quais, já para serem “colocados” devidamente, pedem muita reflexão e hábito de discernir.
Assim, desde os primeiros dias de sua articulação por todo o território da Pátria, a Ação Integralista Brasileira incorpora em seus quadros homens, mulheres, velhos, crianças. Objetivando construir uma nação, pede para a tarefa comum o concurso de todos. Surgem, então, questões delicadas de distribuição de aproveitamento de serviços.
Para solucionar esses conflitos, é preciso ter bem acesa a inteligência da ideia central em torno da qual gravita todo o pensamento integralista e que informa e metodiza toda a atividade integralista.
Essa Ideia Central, pedra angular sobre a qual repousa um dos maiores movimentos da história, toma corpo simbolicamente na letra grega que é a sua expressão viva. O emblema do Sigma sintetiza uma atitude do espírito, uma direção do pensamento. Nessa forma de nitidez helênica encara-se puro e vigoroso o Conceito de Finalismo e de Ordem. Ele se ergue, neste princípio de século, como afirmação da integridade humana, reatando a linha racional e cristã de crescimento histórico que foi quebrada, desde o século XVI, pela Reforma Protestante e pela Renascença Pagã. Investe contra um ciclo histórico que se abriu com o grito da revolta luterana e se arrematou com o niilismo comunista. Brota da pulverização moderna como índice da Intangibilidade do Livre-Arbítrio do Homem. Hoje como ontem e sempre o espírito escolhe, opta, interfere.
Segundo esse conceito de Finalismo e de Ordem, alicerçado na razão reta e na tradição cristã, Deus é a primeira e Suprema Realidade, o Ser por Excelência, origem e fim último de todas as coisas. O homem, criatura de Deus, é um ser complexo, a um tempo material e espiritual, destinado a uma finalidade sobrenatural e terna que para ser atingida implica a realização de uma tarefa terrena. Essa tarefa é uma obra que os homens têm de realizar “em conjunto”, sendo cada um dotado para ela de modo que cada um depende para completar-se das atidões particulares dos outros homens. A vida completa e integral de cada um depende, pois, da obra toda e essa obra toda só pode ser construída pela cooperação de todos. Logo, a identidade do fim último. E a necessidade de que depende o fim último de cada um determina a vida do homem “em sociedade”.
A sociedade, pois, segundo o conceito finalista da Doutrina do Sigma, existe em razão de uma finalidade temporal, que por sua vez é determinada moralmente por uma finalidade sobrenatural e eterna. A organização da sociedade, da vida social, está sujeita a imperativos morais categóricos, ditados pela própria natureza e finalidade do ser humano. Assim, há certas comunidades cuja função é absolutamente necessária à realização do destino do homem. Tais são a Família e a Pátria. Sua missão é essencial à vida porque decorre das razões fundamentais da sociedade.
Esses princípios imortais do Cristianismo, cheios de bom senso, de realismo, de profundo equilíbrio, reveladores da grande harmonia evangélica, constituem a base doutrinária sobre que repousa o Movimento Integralista. Neles se inspira o sentido de plenitude e de ordem, de unidade na variedade, simbolizado no Sigma.
Esse sentido fundamental preside a todas as determinações e atividades da Ação Integralista Brasileira. Organismo preparatório, elaborador da Grande Pátria Cristã, desde já adquire um cunho de expansão e integridade, abraçando funções as mais diversas, cobrindo todo o território nacional e arregimentando homens assim como mulheres, moços assim como velhos, analfabetos assim como doutores. A sua própria amplitude, porém, como foi assinalada acima, dá origem a problemas cuja solução depende da força da ideia central, do conceito de harmonia de finalidade que anima todo o Movimento.
Uma das questões que precisam ser elucidadas é a do aproveitamento das energias femininas na tarefa presente, tendo em vista a sua atuação na Pátria organizada.
É o problema da educação feminina que está em jogo, problema extremamente complexo e de uma importância vital para os superiores destinos humanos. Vamos aqui tentar esclarecê-lo, em suas linhas gerais, à luz dos princípios integralistas.
Educar é guiar alguém para o seu fim próprio. Ora, de início, afirmamos a absoluta igualdade do homem e da mulher como seres humanos, dotados de personalidades e destinados a um fim sobrenatural. Afirmamos também, a sua comum natureza social, dependente do convívio humano, material, intelectual e moralmente. Reconhecemos entre o homem e a mulher um complexo de espírito e corpo em unidade substancial, entre ambos uma profunda diversidade psicológica. Essa diversidade se reflete no terreno social indicando-lhes atribuições diferentes. Notamos que as duas naturezas são capazes de colaboração e de enriquecimento mútuo pela união. Dessa colaboração harmoniosa, em diversidade de atribuições e unidade de fins, depende a plenitude da vida social.
Dados estes princípios compreendemos toda a falsidade e o abuso das teorias “masculinistas”, que esquecem o valor da mulher como “pessoa moral” e a isolam do convívio social; e a igual falsidade e abuso de conceitos “feministas” que negam a diferença entre a “função social” da mulher e do homem. A ambos os erros opõe-se a verdade justa e equilibrada do “humanismo integral”. Entre os dois abusos acima apontados, oscilam habitualmente as normas de educação feminina.
Partindo dos princípios claros do “humanismo integral”, essa educação deverá processar-se em um sentido de análise cuidadosa de toda a realidade feminina, psicológica: e de canalização fecunda de todas as particularidades encontradas, em vista do fim temporal a que se destinam e de suas repercussões eternas. Deverá ser obra de ciência e obra de arte.
Alguns moralistas, sociólogos e também alguns romancistas já se têm dedicado à observação da natureza feminina, chegando à conclusão seguinte: o traço característico do temperamento feminino reside no seu “alterocentrismo”, na sua “capacidade de dedicação a seres vivos” ou “senso maternal”. A vocação maternal, educativa, eminentemente social, define a fisionomia própria da mulher. Particulariza-lhe a inteligência, dando-lhe uma capacidade especial para a apreensão do concreto, do inteiro, para a visão rápida e intuitiva. Afina-lhe a sensibilidade, dotando-a para as melhores realizações artísticas, criadoras. Condicionando-lhe a vida moral, predispondo-a à mística, ao amor absoluto, aos sacrifícios e renúncias totais. Tais atributos mostram-nos claramente o que representa a participação feminina no completo das relações humanas. Uma sociedade, quer de ordem familiar, quer de ordem civil, que fosse edificada exclusivamente sobre o egocentrismo masculino, tornar-se-ia em pouco tempo uma sociedade mutilada e viciada, condenada inexoravelmente à esterilidade do raciocínio frio, à inanição da analise dispersiva e fracionadora, aos abismos vazios da abstração, ressequidas em suas profundidades, privadas de entranhas e reduzida a um mecanicismo absorvente e destruidor. A colaboração dos sexos, ao contrário, assegura-lhe a correção das unilateralidades, o equilíbrio vital composto da vida que se sente alimentada e completada pela vida que vê e age, a plenitude uma e variada.
Colocado o problema da educação feminina em seus devidos termos, segundo o conceito da vida integralista e cristã, cabe à Ação Integralista Brasileira utilizar ordenadamente a cooperação das inúmeras moças e senhoras inscritas em suas fileiras, dirigindo-se sempre, de preferência, para os seus setores educacionais.
A essa atitude corresponderá certamente um acréscimo da vitalidade do movimento. E, ao menos os quadros da Ação Integralista Brasileira estarão contribuindo como centros poderosos de cultura humana e feminina, como verdadeiras forjas de caracteres morais para o futuro cristão do Brasil Integral.
Margarida Corbisier
Conferência apresentada no I Congresso Nacional Feminino da Ação Integralista Brasileira, outubro de 1936. Publicado em A Offensiva, 11 de abril de 1937.