
Estamos acostumados às ilustres figuras do movimento integralista, mas teriam as mulheres voz e espaço nesse movimento? E qual era e é seu papel?
Plínio Salgado, Chefe Nacional, defendia que não apenas os homens possuíam deveres cívicos, espirituais e intelectuais, mas também as mulheres, e completa:
“O homem e a mulher têm necessidades, aspirações, direitos e deveres tanto no que concerne à sua subsistência física, como a interferência na vida político-social e às aspirações religiosas. Dentro dessa tríplice concepção, a mulher é absolutamente igual ao homem, tendendo ao mesmo fim que ele, e tudo o que é lícito e bom para o homem, também é lícito e bom para a mulher. (…) Por conseguinte, a mulher integral, a mulher que se realiza na sua plenitude biológica e espiritual, não é nem superior nem inferior ao homem: é diferente.“ (SALGADO, Plínio, A Mulher no Séc. XX, p. 70;71).
Ainda que não fossem maioria, as mulheres integralistas conhecidas como Blusas-Verdes, detinham cargos de extrema importância para o movimento e seu desenvolvimento. Foram responsáveis por angariar números extraordinários de adeptos de ambos os sexos, com destaque aos núcleos do Nordeste, principalmente Pernambuco.
Surgindo como uma frente antifeminista e com viés espiritualista, as Blusas-Verde também lideravam trabalhos assistencialistas: organizavam bazares para arrecadação de mantimentos aos pobres, lecionavam tanto em suas casas como em escolas, alfabetizando crianças e adultos; ofereciam atendimento médico e também cursos de Enfermagem, Costura e Artesanato.
Como mãe, a Mulher Integral é ciente da importância e da beleza da maternidade, contra os gritos feministas que querem tornar seu ventre gerador da vida em um túmulo. Como diria o saudosíssimo Papa São João Paulo II em sua Encíclica Mulieres Dignitatem, a respeito da grandeza da maternidade:
“Uma tal imagem “reduzida“ andaria de par com a concepção materialista do homem do mundo“.
Sendo mãe, a mulher é per si a primeira grande educadora dos filhos da Pátria, é ela quem nos possibilitará a chance de termos como cidadãos homens honrados e mulheres sábias. Há melhor educador do que aquele que conhece nossas fraquezas, nossas potencialidades, nossas virtudes e a falta delas do que nossas mães?! Ou mesmo há docilidade no trato e rudeza mais respeitáveis do que a de uma mãe que bem educa seu filho?! A mãe não apenas alfabetiza seus filhos, mas catequiza-os, mostrando-lhes as verdades da finalidade do homem. Uma mãe que reza com seus filhos os ensina a coisa mais importante de suas vidas: prestar o culto devido a Deus. Uma mãe mais tem a ganhar educando seu filho ainda pequeno no seio de seu lar, do que corrigindo-o na vida adulta, já endurecido e massificado.
Como soldado convocado, a mãe não deve fugir às suas obrigações de educadora. Ainda que não alfabetize, é ela a primeira educadora desse novo ser. Plínio Salgado dirá:
“Uma nação onde as mães não são mães, na plena significação espiritual do termo, também os filhos não serão homens e mulheres dignos; e uma sociedade constituída de tais elementos pode construir máquinas, arranha-céus e mil confortos técnicos, mas constrói uma civilização“ (SALGADO, Plínio, A mulher no Séc XX. p. 78).
Seu papel também vai além do material, sendo a dona do lar, essa mãe deve prezar pelas almas dos seus, nas palavras do Chefe Nacional:
“Santificando-vos, santificareis a família, o lar, a sociedade, a Nação, a Humanidade; o vosso exemplo multiplicar-se-á em frutos de verdadeira civilização“. (SALGADO, Plínio, A Mulher no Séc. XX, p. 116)“.
Não é raro vermos casos onde após a esposa abandonar a fé, toda a família se vai no mesmo rumo. As mulheres, se soubessem o poder que têm, teriam famílias santas. Temos o exemplos de tantas mulheres que converteram multidões com a récita do Terço e o joelho machucado: Santa Mônica que com suas orações converteu o filho Santo Agostinho – hoje, Doutor da Igreja -, Santa Zélia Martin mãe de Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Genoveva que reavivando a fé dos moradores de Nanterre (França) fez com que alcançassem a graça dos Unos se afastarem de sua cidade, ou ainda Clotilde que converte o Rei Clovis, originando o Reino dos Francos, e muitas outras.
É misterioso o poder que a natureza feminina exerce sobre a natureza masculina. Ainda na origem da humanidade, Adão se admira com Eva e confia nela para comer do fruto da Sabedoria. São José, apesar de não compreender o que se passava com A Virgem Maria, confia em suas palavras e a protege.
Quanto ao seu papel cívico, a mulher enquanto partícipe da sociedade, com direitos e deveres, também possui responsabilidades econômicas. É ela que em sua maioria gerencia as despesas do lar, que possui maior participação nos índices de compra, e hoje em dia possui um papel significativo no mercado de trabalho. Mas seria o Integralismo contrário às ideias do trabalho feminino? Ou a mulher integralista restringe-se a dona de casa? Plínio esclarece:
“Assim como é lícito, e até um dever, em certas circunstâncias, que a mulher trabalhe fora do lar para auferir com virtude os meios de subsistência, também é lícito e, mais ainda, imperiosamente necessário que ela exerça eficiente ação social da família cristã. A sua ação social deve ser eminentemente educadora, tomando contato com as massas populares, auscultando os anseios dos desafortunados e dos injustiçados, de modo a não permitir que as forças do mal se aproveitem das aflições dos infelizes como uma alavanca do materialismo que pretende destruir tudo o que seja dignidade humana. Influir maternalmente na solução das graves questões de assistência, como médica, enfermeira, educadora sanitária; ser amparo e justiça em prol dos trabalhadores, não somente recompondo equilíbrios econômicos, porém sobretudo recompondo equilíbrios morais; dedicar uma parte do seu tempo ao apostolado cristão e ao levantamento das energias da Pátria pelo culto das virtudes antigas e das preclaras tradições da honra nacional; comparecer às urnas, no exercício do direito do voto que lhe foi concedido, para opor, com a sua firme deliberação, uma barreira às doutrinas perversas que, sob a capa de falsas reivindicações sociais, pretendem destruir o fundamento cristão da Nacionalidade“. (SALGADO, Plínio, A Mulher no Séc. XX, p. 108-109).
Plínio destaca que ainda viúva, solteira ou por necessidade, é lícito, é justo e é necessário que essas mulheres trabalhem fora do lar, e mesmo não exercendo funções relacionadas com o papel do lar, estejam sempre dispostas a cooperar e ser exemplo, educando assim os próximos a elas. O que era e é criticado não somente pelos integralistas, mas por todos aqueles que eram e são contra as agendas progressistas, é a troca do lar, onde a mãe é Rainha, para o impiedoso relógio de ponto, a condição assalariada e o subsequente abandono da educação primeira e crucial de seus filhos.
Retornando aos anos 30, o setor de educação das crianças, de outras mulheres e de analfabetos, foi concedido majoritariamente as mulheres, que educavam inclusive muitos analfabetos, que puderam, após essa alfabetização, exercer seus direitos civis de voto. Muitas tendas eram abertas em escolas integralistas onde eram expedidos Títulos de Eleitor.
Como é perceptível, não são as donas dos lares “parasitas“ como as denomina Simone de Beauvoir em O Segundo Sexo, pois têm em si o ofício mais belo e importante de todos: educar para a eternidade.
As Blusas-Verde cientes de todo esse esboço aqui professado, se dedicavam com amor aos seus deveres do lar, da Igreja, e da comunidade assistida pela AIB. Administravam, ainda, periódicos na revista Anauê! (principal veículo da época para a divulgação da doutrina integralista, contendo informações sobre reuniões de núcleos e discursos da tríade de principais doutrinadores do Integralismo, composta por Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale, além de discursos dos chefes de núcleos e membros), aqual circulou de 1935 a 1937, com materiais envolvendo moda, costura, educação e a doutrina do Sigma, o que auxiliava muitas Blusas-Verde que não possuíam núcleos em suas respectivas cidade, alcançando todo o Brasil.
Deixo aqui frases de algumas Blusas-Verde que descreveram suas relações com o Integralismo:
Sra. Maria Ribeiro dos Santos Féres: “O papel da mulher, ao meu ver, é fundamental, mas não ostensivo. Ela é como as raízes obscuras que, ignoradas, penetram a profundeza do solo para dar vida à árvore magnífica. A ela cabe, qualidade de esposa e irmã, mãe e educadora, encorajar, incentivar, plasmar caracteres, construir enfim, orientada pela doutrina o esplendor da nova civilização“.
Sra. Carmela P. Salgado: “A missão da mulher varia de acordo com os deveres de seu estado e os direitos de sua vocação. Não obstante, cabe-lhe trabalhar incessantemente pelo movimento quer pela palavra, pela ação ou pelo exemplo“.
Sra. Gilda de Oliveira Sampaio: “Ser a companheira ativa e dedicada do homem, que conforta com seu carinho, e ajuda com seu trabalho e anima com seu exemplo à realização do Grande Ideal“.
Vê-se então a importância das mulheres nas fileiras do Sigma, por serem cruciais à base da Família, da espiritualidade e da sociedade! Deus, Pátria, Família! ANAUÊ!
Por Jennifer Assis.