Médico e agrônomo teuto-brasileiro. É um dos maiores símbolos do movimento integralista. Foi o grande mestre dos integralistas no Rio Grande do Sul.
Convidado com insistência por Nestor Pereira, ingressou em 1935 na Ação Integralista Brasileira. Participou do famoso comício de São Sebastião do Caí, recolhendo e tratando o mártir José Luís Schroeder e os outros feridos. Em 1936, tornou-se vereador da AIB em Novo Hamburgo, passando a editar o jornal integralista Der Kampf, em alemão. No Der Kampf, lutou para que os imigrantes não adotassem o racismo e a doutrina nazista, identificando-se com a Nação Brasileira e a colocando acima dos laços antigos com a Alemanha. Foi chefe municipal integralista em Novo Hamburgo, membro da Câmara dos Quatrocentos e Governador da 2ª Região da AIB.
Após o golpe do Estado Novo, Metzler manteve-se inativo, orientando a comunidade integralista local de acordo com as novas diretrizes de Plínio Salgado. Foi preso em 1942 na Colônia Penal Agrícola Dalton Filho. Pediu licença para se alistar como voluntário médico na Força Expedicionária Brasileira, mas não pôde ser incorporado. Em 1944, foi aberto pelo Tribunal de Segurança Nacional um processo de perda de sua nacionalidade brasileira, por sua atuação integralista.
Em 1945, participou da fundação do Partido de Representação Popular (PRP) no Rio Grande do Sul, pelo qual recebeu a maior votação entre todos os candidatos a deputado estadual em 1947, tendo sido o único que obteve votação em todos os municípios gaúchos. Em 1951, tornou-se deputado federal. A partir de 1953, tornou-se líder do partido na Câmara. Seria candidato a senador em 1954, com chances quase certas de vitória, mas, para facilitar outros interesses do PRP, lançou-se para Governador do Rio Grande do Sul, esperando a derrota natural.
Foi um combatente pela solução dos problemas rurais, propondo medidas de solução dos problemas básicos das populações agrícolas e desenvolvimento da produção. Além de um projeto revolucionário para o fim da especulação imobiliária, apresentou um projeto de reforma agrária, assinado pelos deputados mais eminentes do país, que foi aplicado na Bolívia pelo Presidente Víctor Paz Estenssoro a partir de 1953.
Tinha grande prestígio entre os colonos gaúchos, entre os quais era considerado um “deus”. Por sua retidão moral, personalidade atenciosa, notabilidade profissional e sua luta pelo fortalecimento da agricultura e do homem da terra, Metzler conseguiu uma extraordinária influência sobre os colonos de sua região, tendo o Integralismo monopolizado grande parte dos locais ao seu redor.
Em 1957, foi nomeado por Juscelino Kubitschek para o cargo de Diretor do Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC). Apesar de estar no risco iminente de um infarto, aceitou a nomeação. Como foi relatado na época, a nomeação causou um caso de divisão interna entre os funcionários do INIC. Parte celebrava a expectativa de que um integralista na administração traria ordem, trabalho e hierarquia ao Instituto, mas outros, por sua vez, lamentavam o começo de um ambiente “fascista” de disciplina e rigor. Metzler faleceu por seus problemas cardíacos apenas quatro dias depois, enquanto estudava documentos durante a madrugada.
Homenageando-o, Luís Compagnoni disse: “Quanto se poderá dizer sobre tudo o que sugere sua vida fecunda, onde cada gesto seu é um convite à superação, na mediocridade de nossas vidas. Que bela vida a sua. E que morte grandiosa. Morte do Titã, fulminado em plena luta. Poderia, como tantos, isolar-se dos problemas públicos e humanos e cuidar de sua saúde, como lhe recomendavam seus médicos, sua família e seus amigos. Como poderia ele descansar, se seus amigos do interior estavam marchando para a miséria, porque as terras gaúchas continuavam marchando para a miséria da própria degradação, exaurindo-se constantemente?!”
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Nasceu em São Francisco dos Casais, no Rio Grande do Sul, em 15 de setembro de 1903. Era filho de Hugo Metzler, imigrante alemão que, como destacado líder católico, se tornou sócio da Tipografia do Centro, editora de três jornais católicos, e Bertha Petry.
Formou-se em 1926 pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, especializando-se em cirurgia e clínica médica em Tübingen e Mannheim, Viena e Paris, em viagem para a Europa em 1927, quando se casou com a alemã Emilie Feser, em Altshausen. Durante a viagem, descobriu que seu verdadeiro nome era Wolf: a mãe o batizou como Wolfram por desgostar do nome inicial. No meio católico da Áustria, tomou contato com as novas ideias nacionalistas e corporativistas. Voltando em 1929 ao Brasil, clinicou em Santo Cristo e, depois, em Novo Hamburgo. Ingressou em 1934 na Liga Eleitoral Católica.
Em famoso artigo publicado na revista Panorama nº 7, de julho de 1936, O Integralismo e o Hitlerismo na Colônia, o integralista gaúcho Mário Ferreira de Medeiros afirmou: “Homens como o Dr. Wolfram Metzler veem no hitlerismo um dos maiores inimigos do movimento integralista, dentro da zona colonial”. No editorial de Der Kampf em 10 de fevereiro de 1937, por exemplo, Wolfram escreveu que “a herança mais preciosa que nossos pais legaram”, sem dúvida, “é isto: a nossa pátria e esta é o Brasil. Devemos entrar em íntimo contato com o Brasil, devemos adquirir o Brasil especialmente e assim possuir o Brasil. Temos feito isto, nós, brasileiros de origem alemã? Não! Muitos anos, muitos decênios temos levado a contemplar o passado, em vez de nos pormos ao serviço do futuro, do nosso futuro, que é o Brasil. Sempre estivemos um pouco ao lado a cozinharmos a nossa sopazinha particular”. Durante a Segunda Guerra Mundial, apesar dos laços afetivos com a Alemanha, voluntariou-se ao serviço médico militar em 1942, declarando no interrogatório policial de seu processo no Tribunal de Segurança Nacional, em 1944, que sua posição sobre o conflito entre o Brasil e a Alemanha era a que lhe impunham seus deveres como cidadão, por não ser então possível às duas nações viver em paz e harmonia, como seria seu desejo íntimo. Em 16 de novembro de 1939, já havia escrito em carta ao irmão, Otto Franz: “Como será, se o Brasil também entrar na guerra e isso contra a Alemanha? Então nos restaria, naturalmente, só um caminho, porque somos brasileiros. Pode-se, porém, seguir para um combate com o coração sangrando, e assim mesmo cumprir o seu dever. Nós germânicos já sempre sobrepomos a fidelidade de vassalos sobre a do sangue, até no Niebelungied, que todavia é o canto épico alemão, já era assim e assim ficou por todos esses séculos até os dias de hoje”. No interrogatório de 1944, declarou sobre a guerra que “em idêntica situação estaria o Brasil se o Integralismo estivesse no poder”.
Como vereador, a grande preocupação de Metzler foi a fiscalização dos gastos públicos. Mais tarde, como deputado estadual, dedicou-se especialmente à defesa das escolas particulares, ao municipalismo e aos problemas do interior. Na Câmara Federal, compôs a bancada do PRP ao lado de Jorge Lacerda, de Santa Catarina, Loureiro Júnior, de São Paulo, Raimundo Padilha, do Rio, e Padre Ponciano dos Santos, do Espírito Santo.
Leopoldo P. da Silva lembrava sua personalidade: “Metzler venceu, liderou, teve posições da mais alta significação na vida do Integralismo e do PRP, porém nunca se envaideceu, nunca vestiu a roupagem do pedantismo, nem a megalomania de ser o homem incomum. Embora possuído de um temperamento arrebatado, impulsivo, às vezes até agressivo, Metzler era homem simples, bondoso e afável. Pilherava, gracejava, contava anedotas, tinha um notável bom humor, mas, ao mesmo tempo era enérgico, valente e disposto. Gostava de ser atacado pela imprensa, era fã da polêmica e do catch cultural, tinha particular pendor ao diálogo, enfim, era um homem combativo por excelência. A exemplo de um dínamo, girava espetacularmente em todos os sentidos e direções. Falando ou escrevendo, era simplesmente magistral”.
Segundo Luís Compagnoni, que conheceu Metzler no comício integralista de São Sebastião do Caí, ouvindo os maiores elogios a ele: “De 1935 até 1957, Metzler somente fez confirmar os conceitos que ouvi dele naquele primeiro dia. Mais ainda, a confirmação foi num crescendo de atitudes as mais belas, as mais dignas, as mais viris. Nunca houve nele um ato de covardia ou de pusilanimidade. Bondoso, como era bondoso o Dr. Metzler!, mas de uma bondade sem fraquezas, sem sentimentalismo”.
Pai de família zeloso, com 5 filhos, sobre ele disse Padre Ponciano dos Santos: “Um exemplo acabado”, “exemplo para todos os chefes de família da Nação Brasileira”, “dedicando o melhor do seu coração, o melhor da sua alma, à sua esposa e aos seus filhos”.
Sobre sua política, acrescentou: “Quantas vezes, aqui na Câmara dos Deputados, vim a surpreendê-lo lendo algum livro em inglês ou francês que abriam novos caminhos para a lavoura, para as reformas da Nação. É que ele aprofundava deveras os problemas, para poder resolvê-los com base e eficiência. Não era desses políticos que fazem demagogia, porém, daquelas almas desconhecidas, daquelas mãos anônimas que vão, no silêncio, construindo a grandeza da Pátria e trabalhando pelo seu desenvolvimento. Poucas pessoas no Brasil conheciam as questões da lavoura e pecuária como Wolfram Metzler. Lembro-me perfeitamente de quando uma vez, eu lhe perguntava a respeito das secas do Nordeste e vi que ele estava mais esclarecido do que qualquer de nós, pois já fizera grandes estudos, visando à solução daquela calamidade. Agora que assumira, há cinco anos, a Presidência do INIC, já estava no seu pensamento o problema das migrações internas, dessas levas de retirantes que vêm lá das regiões batidas pelas secas, procurando o pão e o teto nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde possam, fugindo daquele inferno calcinado, salvar ao menos o resto de sua vida. Wolfram Metzler já tinha examinado a fundo o problema, através de métodos científicos, como pude, em conversa, observar”.
Discursando na Câmara, Luís Compagnoni depôs: “O integralista Wolfram Metzler, fiel sempre aos seus ideais, vê completar-se o Jubileu de Prata do Integralismo, firme ao lado de seu Chefe. Firme como sempre, como em todos os dias. Firme, de uma firmeza tranquila, de quem tem fé em seus ideais e em seu chefe. O Integralismo de Metzler era o Integralismo de Plínio. Podiam ficar sem conversar um com o outro, durante meses e anos e na primeira conversa, no primeiro encontro, verificavam que nada tinham a dizer ao outro porque a sintonia entre ambos era sempre perfeita. O que Plínio tinha pensado, na cúpula do Movimento, Metzler pensara de maneira idêntica lá na sua cidade de Novo Hamburgo. Aliás, Metzler costumava dizer sempre que entre os bons integralistas não havia necessidade de explicações. E acrescentava, sorrindo: ‘A gente se entende só no piscar de olho’. E poucos trabalharam tanto como Metzler para a vitória de seus ideais”.
Em 1957, o então deputado federal Loureiro Júnior foi chamado por Juscelino Kubitschek, que ofereceu o Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC) ao PRP. Loureiro indicou Metzler, um técnico reconhecido, julgando-o capaz de assumir. Plínio Salgado pesquisou a respeito do INIC, descobrindo sobre sua completa desestruturação administrativa e financeira, e, chamando Metzler ao Rio, expôs-lhe toda a situação, para que decidisse. Plínio orientou-lhe que pedisse ao Presidente da República a garantia de pleno apoio e entrosamento administrativo. Chamado por Juscelino Kubitschek, Metzler conversou, com sua maneira franca e desassombrada de falar, sobre o que pensava do INIC e o que faria dele. Em seguida, Juscelino lhe disse: “Vamos trabalhar. Vamos realizar os grande objetivos do INIC”. Logo em seguida, Metzler foi nomeado oficialmente para sua direção.
Comentando a passagem polêmica de Metzler no INIC e as reações divididas dos funcionários, Luís Compagnoni afirmou: “Sentimo-nos felizes por ter constatado, experimentalmente, o alto conceito em que é tido o espírito integralista — espírito construtivo, de ordem, de trabalho, de honradez, capaz de dinamizar e de dignificar a administração pública, preparando o advento da Grande Nação, sonhada por Plínio Salgado”.
Na madrugada de 20 de outubro, estava em apartamento no Hotel Serrador, no Rio de Janeiro, debruçado em uma escrivaninha sobre o volumoso e famoso processo das terras do Paraná. Sentindo, às cinco horas da manhã, que sua vida se aproximava ao fim, Metzler pediu à portaria do hotel que chamasse um médico e um sacerdote. Naquele instante, passava na rua um frade da Lapa, que entrou no quarto no mesmo momento do médico. Na confissão, disse apenas: “Eu não tenho pecados, nada me remorde a consciência, mas lhe peço que me dê a absolvição porque minha alma vai encontrar-se diante de Deus em poucos instantes”. Recebeu a absolvição e, pouco depois, os últimos sacramentos, expirando para a Eternidade.
Comentando a morte de Metzler, Padre Ponciano dos Santos disse: “É bem provável fosse ele um desses grandes homens que, em momentos difíceis, se apresentam como vítimas pelas suas Pátrias, que ele talvez quisesse dar a vida pois já estava com edema no coração, já tivera um ataque há cinco meses e agora voltava à liça da atividade político-administrativa, para se imolar — quem sabe? — na sua doença, dando seus últimos momentos de vida pela Pátria quando bem podia viver tranquilamente lá na sua cidadezinha de Novo Hamburgo no Rio Grande do Sul, atendendo aos clientes, repousando na sua pequenina fazenda”.
Em 1961, foi empossado seu retrato na Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul. Em 1976, um busto seu foi instalado na Praça Wolfram Metzler em Santo Cristo, no interior gaúcho. Dá nome a ruas em Porto Alegre, Novo Hamburgo e Campo Bom, assim como a um colégio estadual, em Novo Hamburgo.
Ivo Compagnoni escreveu: “No belíssimo panorama dos fenômenos sociológicos do Rio Grande do Sul, deve ser incluído, como um dos grandes fatores da plena integração e assimilação das correntes migratórias lá radicadas, o papel doutrinador das ideias integralistas, quer em sua fase inicial, como depois, através do PRP. Pode-se afirmar, sem medo de erro, que o trabalho de educação cívica, de aprimoramento cultural dentro de lineamentos legitimamente brasileiros, foi efetuado quase que exclusivamente pelo Integralismo. E isto, de modo todo especial, nós o vamos constatar nas zonas de colonização germânica dos pampas gaúchos. É empolgante, e por vezes mesmo emocionante, presenciar o entusiasmo, o interesse e a vibração cívica dos nossos colonos de origem alemã, no Rio Grande do Sul, quando estes participam de comícios, de reuniões do nosso movimento! […] Pois bem. O ponto alto, a expressão mais completa desta plena integração dos nossos irmãos brasileiros oriundos das levas imigratórias do Sul do país é, certamente, a figura de Wolfram Metzler. […] Um futuro muito próximo confirmará, para todos nós, e revelará para muitos, a grandeza e a repercussão do nome e da obra social e cívica de Wolfram Metzler, legítimo protótipo do brasileiro, descendente de imigrantes, cuja personalidade foi calcada na luta, no sofrimento e na própria morte pelo bem da Pátria. Quando alguém vos perguntar, companheiros, qual a significação ou qual o valor da obra realizada pelo Integralismo, apontai o nome Wolfram Metzler! Ele é uma síntese perfeita de tudo o que nós pregamos, do que sentimos e do que realizamos, pela cultura e pelo bem do Brasil”.
Fontes biográficas
- A Marcha, 18 e 25 de outubro e 1º de novembro de 1957.
- Anais da Câmara dos Deputados, 22 de outubro de 1957.
- COMPAGNONI, Ivo. Wolfram Metzler — Síntese dos ideais integralistas. A Marcha nº 234, 6 de dezembro de 1957.
- METZLER, Wolfram. Pulverizando Infâmias! Discurso pronunciado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul em 4 de dezembro de 1947.
- TONINI, Veridiana Maria. Uma relação de amor e ódio: o caso Wolfram Metzler (Integralismo, PRP e Igreja Católica, 1932-1957). Tese (Mestrado em História) — Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Passo Fundo. Passo Fundo, março de 2003.